APÓS A POSSE DE DONALD TRUMP, PARA ONDE VAMOS?
Em todo o mundo, as pessoas
observam com preocupação as primeiras decisões, atos e gestos do novo
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua administração. Não é apenas
uma página que está sendo virada, mesmo se o democrata Joe Biden deixou ao seu
sucessor republicano uma carta muito amigável na mesa da Casa Branca. É toda a
crise de dominação do imperialismo estadunidense e do sistema capitalista, até
então contida no contexto de relações antigas e desgastadas, que está
irrompendo sem pudor e sem verniz.
Com um número recorde de
bilionários em seu governo e uma presença maciça das maiores fortunas do mundo
em sua posse (representando 1,2 trilhões de dólares), Trump e seu governo
aparecem abertamente, sem máscara nem fingimento, o que são: o conselho de
administração do capital financeiro dos EUA, e “o predador dominante” nas
palavras do deputado republicano do Tennesse, Andy Ogles.
TENTATIVA DE REALINHAR A POLÍTICA DOS EUA COM BRUTALIDADE
SEM PRECEDENTES
A classe capitalista dos Estados
Unidos tem agora um objetivo declarado: usar todos os meios de seu poderio
econômico, político e militar para tentar reorganizar, imediatamente e com sua
arrogância e virulência características, todas as relações de dominação em
escala global, e dentro dos próprios Estados Unidos, em preparação para seu
confronto com a China.
A extrema facilidade com que
Trump impôs o cessar-fogo em Gaza mostra até que ponto os Estados Unidos
tinham, desde o começo, controle total sobre o genocídio do povo palestino, e
que nada poderia ter sido feito sem a sua aprovação ou o seu apoio militar e
político. Em troca do cessar-fogo em Gaza, descrito como “temporário” por
Netanyahu, Trump deu seu aval para que o governo israelense atacasse a
Cisjordânia, com o acordo e o apoio da pretensa “Autoridade” palestina e a
cumplicidade ativa dos líderes dos países imperialistas e de quase todos os
países árabes. É um governo israelense enfraquecido pelas suas divisões
internas e por uma profunda crise política, econômica e social, fragilizado
pelas suas perdas militares, que está lançando seus ataques no campo de Jenin e
na Cisjordânia.
Ao mesmo tempo em que declarou
“não tenho certeza se o cessar-fogo (em Gaza) vai durar”, Trump assinou vários
decretos logo no primeiro dia de sua posse, para expulsar estrangeiros que
tenham uma “atitude hostil em relação ao governo” e deportar estudantes
estrangeiros que participaram das mobilizações históricas nos campus
estadunidenses para exigir o cessar-fogo, o fim do fornecimento de armas e das
parcerias com instituições e empresas israelenses. Paralelamente, o governo dos
EUA permitiu que Israel instale novas bases militares no sul da Síria e
garantiu respeitabilidade aos novos líderes em Damasco, ex-líderes da Al-Qaeda
e do Estado Islâmico, que foram convidados para o Fórum Econômico de Davos.
DEPORTAÇÕES EM MASSA
Ao assinar decretos para expulsar
milhões de imigrantes dos Estados Unidos, inclusive por meios militares, Trump
mergulha uma grande parte da América no medo e no pânico. Milhares de crianças
pararam de ir à escola. Seus pais estão abandonando os canteiros de obra e os
campos onde trabalhavam, na tentativa de escapar da deportação. A ponto de
alarmar empregadores e representantes políticos em vários estados, onde o
emprego de imigrantes representa mais de 50% da mão de obra em alguns setores
importantes. Uma deportação em massa que, se realizada, poderá ter grandes
consequências políticas e sociais nos Estados Unidos, mas também no México e
mais amplamente em toda a América Latina.
Independentemente do que diga,
Trump não se importa com o milhão de ucranianos e russos mortos e feridos pelas
bombas da Rússia e dos Estados Unidos. Por trás do manto do cessar-fogo na
Ucrânia, que ele quer concluir com a Rússia após três anos de uma guerra
devastadora, e de sua tentativa de domesticar todos os governos europeus por
meio da Otan, mal se escondem os interesses do imperialismo estadunidense, que
quer redistribuir suas forças na Ásia. Como disse o general Mike Flynn, próximo
de Trump: “A influência financeira da China está remodelando significativamente
o cenário global, desafiando o atual domínio dos países ocidentais. É a China,
e não a Rússia ou o Irã, que representa a maior ameaça mundial (à dominação dos
EUA)”.
As rotas marítimas que estão se
abrindo no Oceano Ártico como resultado do aquecimento global e os imensos
recursos da Groenlândia (90 bilhões de barris de reservas de petróleo, 30% do
gás natural inexplorado do planeta e cerca de 1 trilhão de dólares em minerais
de terras raras) estão em jogo no comércio mundial, que os Estados Unidos
querem disputar com a China.
Também estão em jogo o controle
do Canal do Panamá e os imensos recursos naturais da América Latina e da
África, dos quais os povos tentam se reapropriar, buscando romper com o
imperialismo e expulsando a antiga potência colonial francesa de suas áreas de
influência no Sahel.
Os EUA estão se preparando para
usar um arsenal de medidas que vão de taxas alfandegárias a sanções econômicas
e financeiras além da força militar, inclusive com o uso de intermediários,
como na Síria e na África, para tentar reorganizar todas as relações globais em
seu benefício. Assim como para impor aos países da Otan, na próxima reunião de
cúpula a ser realizada em Haia, em junho, um aumento considerável nos
orçamentos militares, às custas de cortes sem precedentes na educação, na saúde
e nos serviços públicos, e a chamar os países asiáticos a se armarem “até os
dentes”.
Em toda parte, o imperialismo
estadunidense, que é dominante, mas está em crise, enfrenta a concorrência da
China pelo controle dos mercados e para continuar sua exploração dos recursos.
Para fazer face a isso, está pronto para mergulhar os povos e as nações no caos
e atacar a soberania duramente conquistada pelas nações oprimidas.
PARA SE SALVAREM, OS GOVERNOS APELAM À UNIÃO NACIONAL E, NO
MÍNIMO, À CONTENÇÃO E À “BENEVOLÊNCIA” DOS DIRIGENTES DO MOVIMENTO OPERÁRIO
Na Europa, os governos
maciçamente rejeitados, que até aqui se apresentaram como parceiros dos Estados
Unidos, para ocultar seu completo alinhamento com os interesses do capital
estadunidense, tentam fazer boa figura, chamando à unidade nacional para salvar
sua suposta independência e tentar se proteger, desesperadamente, da
marginalização que os ameaça. Seu único objetivo é ganhar, se não o apoio, pelo
menos a abstenção benevolente de seus oponentes políticos e dos dirigentes das
organizações operárias, a fim de prosseguir com sua política totalmente voltada
para os interesses do capital.
A 4ª Internacional, sem jamais
apoiar qualquer governo que, sob condições específicas de cada país, mantenha
os povos sob o domínio das relações de exploração capitalistas, todavia apoiará
todos os passos e todas as iniciativas que vão no sentido da ruptura com o
imperialismo e da defesa dos interesses dos oprimidos. Compartilha a alegria do
povo palestino que, aprendendo as lições da Nakba de 1948, resistiu a 15 meses
de bombardeios incessantes, destruição total e desumanização, e comemorou o
cessar-fogo na esperança de poder viver novamente em sua terra. Saúda os povos
libanês e iemenita que se mantiveram ao lado do povo palestino, apesar dos
ataques dos exércitos de Israel e dos EUA e seus aliados, bem como as
manifestações pelo cessar-fogo, pelo embargo de armas e o fim do genocídio que,
em todo o mundo, nunca cessaram.
Estamos entrando em uma nova
situação mundial, na qual mesmo a existência de relações sociais entre o
capital e as organizações de trabalhadores para regular as condições “normais”
de exploração, se tornou um obstáculo à sobrevivência do regime capitalista.
Uma nova época que deixa poucas escolhas: a marcha rumo ao caos, à guerra e à
desagregação, ou a revolução e a ruptura com os governos odiados, abrindo uma
oportunidade para que os povos decidam seu próprio futuro; ou a organização e a
ajuda à ruptura classe contra classe, ou a defesa, aberta ou insidiosa, dos
governos e do sistema capitalista em plena desorganização. Em todos os lugares,
setores cada vez mais amplos dentro das potências econômicas e financeiras
duvidam da capacidade de Macron, na França, ou de Scholz, na Alemanha, de
manter a estabilidade das instituições e conduzir sua política belicista e
reacionária. Abertamente, eles impulsionam a extrema direita com o apoio do
novo governo dos EUA ou, sorrateiramente apoiam e implementam o seu programa,
para se envolver em uma verdadeira guerra de classe contra os trabalhadores, a
juventude, e suas organizações.
As direções do movimento
operário, que em sua maioria permanecem em silêncio sobre o genocídio do povo
palestino, quando não apoiam abertamente os governos que entregam armas a
Netanyahu, ou apoiam os orçamentos de austeridade e o aumento dos gastos militares
“porque não podemos fazer outra coisa”, carregam uma pesada responsabilidade.
Nas organizações, são cada vez
mais numerosos os que questionam, impacientes, que não se deixam enganar e,
indo além das instruções ou da expectativa nos dirigentes, buscam, muitas vezes
de forma contraditória, no seu nível, comprometer publicamente suas
organizações para romper com esse curso nefasto e ajudar os trabalhadores a
lutarem.
Também dentro dos partidos
tradicionais, os dirigentes que contornam ou tentam abertamente salvar os
governos rejeitados provocam reações entre seus membros e simpatizantes, que
procuram se reagrupar em uma profusão de iniciativas nos planos sindical e político,
para organizar a solidariedade e tentar bloquear os ataques.
RESISTIR, REAGRUPAR-SE E AGIR EM UMA NOVA ESCALA
Nos próprios Estados Unidos, imediatamente após a posse de Trump, o
sindicato dos funcionários públicos AFSCME denunciou “a série de ordens
executivas antitrabalhador que ameaçam entregar o destino dos servidores
públicos aos bilionários e extremistas antissindicais”. O sindicato de serviços
públicos e de saúde, SEIU, com dois milhões de filiados, afirmou: “Reduzir a
proteção ao emprego e atacar os direitos de negociação coletiva dos servidores
federais, inclusive transformando alguns deles em empregados demissíveis à
vontade, o que reduziria ao silencio a voz dos trabalhadores, abriria caminho
para maus-tratos generalizados aos servidores e ameaçaria a qualidade dos
serviços com os quais os estadunidenses contam”. E acrescentam “Não
recuaremos!”.
Para além das dificuldades de
longa data que têm impedido a classe trabalhadora dos Estados Unidos de
construir sua própria organização política independente, destaca-se o apelo do
Democratic Socialists of America (DSA): “Nos juntamos a milhares de pessoas
hoje, dia da posse, para nos reunirmos e marcharmos a fim bloquear as ruas de
Manhattan, como parte de uma mobilização nacional para combater a agenda
fascista de Trump e expressar a nossa solidariedade com a Palestina (...). Os
bilionários de extrema direita se reúnem em apoio a Trump. É hora de nos
organizarmos também”. Eles estão certos.
Quaisquer que sejam nossas
sensibilidades, nossas origens e nossos compromissos, aqueles que estão ligados
à democracia, à defesa das conquistas trabalhistas e das liberdades, ligados à
rejeição do genocídio e da guerra, à existência de um único Estado Democrático
sobre todo o território histórico da Palestina, garantindo o direito de retorno
dos palestinos, e no qual cada componente possa viver livre e com igualdade de
direitos, eles inevitavelmente buscarão se reunir, em cada um de nossos países
e no plano internacional, para lutar contra os governos que promovem a guerra e
o caos, para defender a humanidade e as conquistas da civilização. Nós fazemos
parte disso!
Chamamos a fortalecer e a
construir as seções da 4ª Internacional a fim de contribuir para esses
objetivos.
DECLARAÇÃO DO SECRETARIADO INTERNACIONAL DA IV INTERNACIONAL
25 de janeiro de 2025
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