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Vultos da História

200 anos de Friedrich Engels

Por José Levino
FRIEDRICH ENGELS – O comunista revolucionário Friedrich Engels completa seu bicentenário em 28 de novembro de 2020. (Foto: Reprodução/Nikolai Zhukov)
“Engels deu uma contribuição própria à teoria do socialismo científico, que foi a de estender à natureza a concepção materialista da dialética, uma vez que Marx se dedicou ao ser social. A contribuição engelsiana conferiu ao marxismo o caráter de filosofia, com a generalização metodológica e teórica, contendo uma concepção de mundo, não apenas da sociedade.”
O nome dele não aparece na denominação da filosofia, mas é impossível pensar em marxismo e não aparecer em nossa mente a imagem de Friedrich Engels ao lado de Karl Marx, seu amigo inseparável. Este se definia como, no máximo, segundo violino da orquestra do comunismo, mas é modéstia. Mesmo nas obras que Marx escreveu sozinho, estão presentes ideias das conversas, estudos e reflexões que faziam juntos.  E a militância compartilhada.

O nascimento foi em 28 de novembro de 1820 na província renana da Prússia, território da Alemanha.  Seu pai, Friedrich Engels Sr., empresário industrial; sua mãe, Elisabeth Franziska, mulher ligada às artes e à literatura. Na escola, já demonstrava uma inteligência múltipla, capaz de aprendizagem e compreensão de disciplinas variadas, além de escrever poemas, compor músicas, deixar felizes seus mestres. Mas não entrou na universidade porque o pai o queria como empresário e comerciante para dar continuidade aos seus negócios. Aos 17 anos, concluído o Liceu (atual Ensino Médio), foi estagiar nas empresas do pai, que depois o empregou numa empresa exportadora de um amigo na cidade portuária de Bremen. Nas horas vagas, continuou estudando afincadamente. Era, ainda, um esportista, praticando montaria a cavalo, esgrima, natação e patinação.

Engels viveu sua juventude numa Europa efervescente, ainda lutando contra o absolutismo e resquícios do feudalismo, principalmente na Alemanha, onde o capitalismo se desenvolveu tardiamente, dependendo das grandes potências da época (França e Inglaterra). Em ascensão, a burguesia lutava por um regime democrático e republicano e essa luta despertava a atração do jovem, que ficava muito triste ao ver a situação em que viviam os operários. Aos 19 anos, começou a escrever para os jornais, denunciando a exploração e as injustiças praticadas pelos governos e pelos poderosos. A um amigo da escola, que lhe criticava por essas preocupações e mostrava o caminho da felicidade na fazenda da família, Engels escreveu: “Atividade, vida, coragem juvenil, esse o verdadeiro sentido. A torrente do tempo irá devorar vossa economia idílica e então estareis num beco sem saída”.

Em 1841, retorna para a casa do pai, em vista de prestar o serviço militar, que será em Berlim, fato que ele comemora, uma vez que a atividade comercial lhe satisfazia cada vez menos. Em Berlim, frequentou a universidade na condição de ouvinte, onde conheceu e se aproximou dos discípulos do filósofo Hegel, que se dividiam numa ala dogmática, idealista, e outra que buscava aplicar o método hegeliano à vida real, com a qual ele se entrosou. Marx era deste grupo, mas Engels não o conheceu nesta época. Travava-se um grande debate em torno do significado da liberdade, que os dogmáticos definiam como livre arbítrio. Engels se opõe a tal visão, refletindo que a verdadeira liberdade é a atividade consciente decorrente da compreensão da necessidade existente no mundo. Engels se desligará dos jovens hegelianos de esquerda em 1851, por considerar que eles adotavam uma fraseologia revolucionária desligada de qualquer atividade prática.

Casando com a Classe Operária

Concluído o serviço militar, acabou a folga. O pai mandou-o para Manchester, Inglaterra,  para trabalhar numa fábrica têxtil (Ermes & Engels) da qual era sócio, em 1842. Nesta viagem, de passagem por Colônia (Alemanha), visitou a redação da revista progressista Rheinisch Zeitung, cujo chefe de redação era Karl Marx. Tiveram uma breve conversa.

Em Manchester, Engels ficou abismado com o grau de exploração dos operários e a precariedade de sua vida. Decidiu estudar a fundo, não só nos livros, jornais e revistas, mas no contato direto, tanto nas fábricas quanto indo às casas dos operários, que viviam em condições subumanas. Era acompanhado pela jovem Mary Burns, empregada da fábrica do seu pai. A amizade terminou em casamento. Foram dois anos de estudos e pesquisas que resultaram na obra clássica “A Situação da Classe Operária na Inglaterra” (1845).

Aproximou-se do Cartismo, movimento de massas dos trabalhadores ingleses, que promovia grandes greves com reivindicações econômicas e preparava projetos de lei para pressionar o Parlamento a aprová-los. O movimento acreditava na transformação social por meio da institucionalidade, mas acabou esmagado pela repressão armada. Avaliando a experiência cartista, Engels escreveu: “A Revolução por via legal é impossível”.

Contatou também os socialistas utópicos que propunham o associativismo como caminho para superação do capitalismo; dialoga com Robert Owen. Como os ingleses eram bastante isolados, proporciona-lhes o conhecimento do movimento operário na França e na Alemanha, bem como das experiências dos utópicos franceses.

Em fins de agosto de 1844, retorna à Alemanha. Encontra Marx em Paris. Desta vez, a conversa é profunda e firma uma amizade e parceria que mudarão a história da Humanidade. Sua primeira obra conjunta é “A Sagrada Família”, na qual desenvolvem uma crítica demolidora dos jovens hegelianos, estabelecendo uma concepção materialista da história e do papel da filosofia, que não deve ser de interpretar o mundo, mas de transformá-lo. De volta a terra natal, contata o movimento socialista, ainda influenciado pelos ideais utópicos, mas se anima com o potencial existente, relatando para Marx: “O êxito é colossal. O Comunismo é o tema central das conversas e cada dia nos traz novos partidários”.

Os conflitos com o pai levam-no a mudar-se para Bruxelas, onde se encontrava Marx. Seguem para a Inglaterra onde ficam um mês realizando estudos conjuntos e articulações, especialmente com os cartistas de esquerda e a Liga dos Justos, uma grupo comunista clandestino, resultando na criação de uma organização chamada Democratas Fraternos, que eles consideram eivada de ilusões pequeno-burguesas, mas pretendem transformar em proletária e revolucionária. Partem para sua segunda obra conjunta “A Ideologia Alemã”que contém as bases do socialismo científico.

De 1846 a 1848, Engels se instala em Paris com a missão de criar comitês socialistas, trabalho difícil, haja vista a grande influência dos utópicos. Marx, por sua vez, é chamado para reorganizar a Liga dos Justos, que se transforma em Liga dos Comunistas e substitui a palavra de ordem “todos os homens são irmãos”, por “Proletários de todos os países, uni-vos”.

Além da organização dos comunistas, Engels e Marx se empenharam na criação de uma Frente Democrática, a partir de Bruxelas, reunindo cartistas ingleses e democratas da Alemanha, França, Suíça e Holanda. Eles analisavam que a Europa vivia uma etapa de revoluções burguesas e que os operários deveriam participar ativamente delas, mas com sua própria organização para garantir que não parassem com as derrotas das monarquias, mas continuassem até a instauração do comunismo. Em novembro de 1847, o 2º Congresso da Liga dos Comunistas encarrega Marx e Engels da redação de um Manifesto à humanidade, o qual será lançado em 1848, com o nome de Manifesto do Partido Comunista.

Gênio Militar

O lançamento do Manifesto coincide com uma onda revolucionária na Europa, iniciada na França e que se estendeu por todo o continente. Marx e Engels participaram ativamente na Bélgica. Marx foi logo expulso do país, mas Engels permaneceu, saindo depois para Paris e daí para a Alemanha, onde a luta continua, mesmo depois de os operários parisienses serem afogados num mar de sangue.

Em 1849, a repressão alemã ainda encontra resistências locais. Numa delas, na cidade de Elfeberd, está Engels, à frente de um destacamento de 400 operários armados, e demonstra que, além de teórico e militante, é um especialista em artes militares, desassombrado e ousado. Sai da cidade, por pressão da pequena-burguesia, que temia perder o comando para os comunistas, e vai lutar na região do Palatinado, onde enfrenta o exército prussiano, mas é derrotado e escapa pela fronteira suíça.

Ante a vitória da reação, Marx e Engels rumam para a Inglaterra.  Eles avaliam que o movimento operário só poderá se reerguer diante de uma grande crise econômica, que não virá de imediato. Desse modo, os anos seguintes serão de aprofundamento dos estudos e da organização interna. Engels aceita voltar a trabalhar nas fábricas do pai em Manchester, consciente da necessidade, até para assegurar o sustento de Marx e sua família a fim de que este pudesse prosseguir na sua tarefa fundamental.

Foram 20 anos de “Cativeiro do Egito”, dizia Marx. Mas, Engels, que tinha uma energia extraordinária, continuou aprofundando seus estudos em diversas áreas, mantendo correspondência permanente com Marx, e participando de articulações dentro do possível. Em 1864, é fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), também conhecida como Primeira Internacional.

Em Tempo Integral

Engels libertou-se do “cativeiro egípcio” no segundo semestre de1870, quando se mudou para Londres e foi eleito para o Conselho Geral da AIT. A década seguinte foi de intensa luta ideológica. Primeiro, no combate ao anarquismo no interior da Internacional, que culminou com a expulsão dos bakuninistas; a seguir, contra o reformismo liderado por Lassalle no Partido Proletário alemão. No campo do reformismo, E.K. Dühring, professor da Universidade de Berlim lançou a proposta de “um novo comunismo”, que se construiria sem luta de classes. O livro “Anti-Dühring”, escrito com a colaboração de Marx, não se limita a responder ao professor. É uma exposição sistemática do materialismo histórico e dialético e apresenta um balanço da evolução das ciências da natureza. Mostra o funcionamento das leis da dialética na natureza e na sociedade.

Todo Apoio à Comuna

Março de 1871. O proletariado parisiense toma o poder e convoca a população para construir a nova sociedade, anunciando as primeiras medidas neste caminho. Algumas províncias se levantam no interior, mas são logo sufocadas. O exército burguês se reorganiza e se alia com seu arqui-inimigo até então, os invasores alemães, para retomar o domínio econômico e político. Em maio, depois de heroicos e sangrentos combates, a Comuna é derrotada. Desde o início da luta, Engels interveio no Conselho Geral da Internacional no sentido de dar todo o apoio aos comunnards, dos quais, muitos, inclusive, eram filiados à organização. O apoio efetivamente aconteceu, tanto no período da luta quanto depois, com ajuda aos exilados e denúncia em todo o mundo da repressão feroz e do genocídio praticado contra os operários de Paris e suas famílias.

Contribuição Original

Engels deu uma contribuição própria à teoria do socialismo científico, que foi a de estender à natureza a concepção materialista da dialética, uma vez que Marx se dedicou ao ser social. A contribuição engelsiana conferiu ao marxismo o caráter de filosofia, com a generalização metodológica e teórica, contendo uma concepção de mundo, não apenas da sociedade.

Seus últimos 12 anos de vida, Engels dedicou-os à edição do segundo e terceiro volumes de “O Capital”. Ao morrer, no dia 14 de março de 1883, Karl Marx tinha concluído apenas o primeiro volume. Deixou anotações sem ordem, e Engels, o único capaz de empreendimento tão arrojado, dedicou-se a decifrar a letra do companheiro, apreender a essência do seu pensamento, concatenar as ideias e dar uma estrutura lógica, o mais próxima possível do modo de Marx expressá-las.

Engels passou a orientar o movimento operário europeu, respondendo a consultas sobre método, problemas localizados, criticando e estimulando camaradas. E nunca abandonou a condição de cientista social. A partir das pesquisas antropológicas de H. Morgan, lidas e anotadas por Marx, formulou a teoria marxista do Estado, na obra “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, cujos pressupostos já estavam em sua obra anterior e na de Marx, mas não de forma sistêmica e embasada na história e na antropologia. Seu último trabalho (1895) foi o prefácio à reedição de “As Lutas de Classe na França”, de Karl Marx. Nele, Engels faz considerações sobre o desenvolvimento da luta de classes e situa, pela primeira vez na teoria marxista, a distinção entre guerra de movimento e guerra de posições.

Na Amplidão dos Mares

No dia 5 de agosto de 1895, vitimado por um câncer no esôfago, falece Engels. Nos seus funerais, Wilhelm Liebknecht, líder operário alemão, discursou: “Nele, teoria e prática se fundiram num todo único”. Presentes, atendendo ao seu pedido, apenas alguns parentes e amigos. Um grupo menor ainda, no qual estava Eleanor, filha caçula de Marx, atendeu a outro desejo, lançando as cinzas do seu cadáver no mar de Eastbourne, a duas milhas da costa. Segundo Lênin, Engels foi “depois de Marx, o mais notável sábio e mestre do proletariado contemporâneo”.

Disponível em: https://averdade.org.br/2020/11/200-anos-de-friedrich-engels/. Acesso em 29/11/2020.

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140 anos: o que Stálin representa para trabalhadores pobres no Brasil hoje?
Por Thales Caramente, publicado na newsletter do Jornal “A Verdade” em 22/12/2019.


O prestígio de Stálin entre a classe trabalhadora cresce, principalmente entre trabalhadores pobres organizados. Esse prestígio ascendente é resultado da capacidade de todo um conjunto de classe de se reconhecer nele enquanto indivíduo marginalizado, oprimido, explorado, roubado e bestializado cultural e economicamente.
Em 21 de dezembro de 1879, nasceu Josef Stálin na cidade de Gori, Geórgia. Ao longo da sua vida, Stálin foi estudante, operário, professor e dirigente da classe operária. Conseguiu pela sua capacidade organizativa, oriunda de sua origem de classe, ser o principal dirigente de vitórias de uma classe que até então não sabia o que era governar em si para si.
Após a Segunda Guerra Mundial, a fama de Stálin ultrapassava a de figuras como Che Guevara e Fidel Castro hoje. Era um prestígio que atingia camponeses, operários e todas as camadas sociais de seu tempo. Stálin foi o líder reconhecido por derrotar o nazismo e libertar o mundo de campos de concentração. Isso possuía – e ainda possui – um significado político altamente representativo para todos aqueles que seriam subjugados pelo nazismo hitlerista. Citando Mauricio Grabois, “falar de Stálin era o mesmo que falar em liberdade, democracia e paz.”
Em 1949, o 70º aniversário de Stálin marcou o mundo inteiro com diversos eventos entre os povos. O Partido Comunista Francês lançou o evento nacional “Longue vie a Staline pour son 70eme Anniversaire” e foram relembradas todas as vitórias e feitos do povo soviético sob direção de Stálin. Como se não bastasse, o povo francês ainda produziu um pequeno documentário, “Homme Que Nous Aimons le Plus” (O Homem que Mais Amamos), feito especialmente em homenagem ao “Marechal Stálin”.
O Partido Comunista do Brasil, durante a legalidade, passou a lançar anualmente edições especiais dos jornais “A Classe Operária” e “Voz Operária”, relembrando feitos do povo soviético e Stálin, seja na educação ou nos planos quinquenais. Pela primeira vez, lançou o conjunto de Obras Completas de Stálin junto com a campanha “Caderno de Stálin”, um caderno que todo militante deveria possuir para estudar os textos do “campeão da luta pela paz e guia do campo democrático”.
Naquele mesmo período, Diógenes Arruda Câmara escreveu o artigo “Como Festejará Você o Aniversário de Stálin?”, no qual demonstra todos os esforços dos trabalhadores do mundo para homenagear Stálin ou presenteá-lo com cartas, poemas, músicas, simples desenhos e pinturas. 
Porém, não compete ao A Verdade ser o jornal que falará de Stálin para a classe trabalhadora ou que recolherá e divulgará estatísticas sobre a fama de Stálin hoje, mas ser o instrumento que a própria classe trabalhadora utilizará nesta ocasião para que fale sobre si. Que Stálin seja uma inciativa sua, um resultado natural de sua própria consciência de classe.
Assim, A Verdade recolheu com exclusividade diversas declarações de trabalhadores de origem periférica sobre o que o georgiano representa para eles enquanto assalariados, pobres e, alguns, marginalizados; a alguns foi perguntado o que ele representa enquanto comunista. Esse recolhimento de informações não mostrou apenas que há um sentimento proativo de admiração, mas que ele é igual a do passado, mesmo que inconscientemente.
Um operário georgiano, Osman Gurgenizde, que conheceu Stálin antes da tomada do poder, registra que ele falava “sobre coisas próximas ao coração do trabalhador, sobre as razões pelas quais os operários, trabalhando além de suas forças, recebem somente essa ninharia que é suficiente só para não morrer de fome. O camarada Stálin estava perfeitamente conectado com as massas dos operários e conhecia em detalhes a vida da nossa classe. Tudo o que ele explicou, ele intimamente conhecia, com fatos específicos e, por isso, seu discurso foi tão claro para nós.”
Apoiando a afirmação de Gurgenizde de forma inconsciente, Matheus, químico da cidade de Santo André, relembrou como Stálin conseguia “fazer essa transposição didática do trabalho coletivo, da produção social… como ele trouxe isso para o dia a dia das pessoas.”, fazendo uma alusão aos discursos e à simplicidade dos livros do dirigente.
Já Marcelo, trabalhador da SABESP e sindicalista, diz que Stálin foi “o cara que deu condições de acreditar que [o socialismo] é possível, porque conduziu na prática uma revolução social. Não a parte beligerante da revolução, mas a fase das transformações materiais da vida.”
Acrescentando comentários sobre a tomada do poder, Manoel, operário pernambucano morador do Jardim Pantanal (zona leste de São Paulo), bairro que tem grandes problemas de infestação de carrapatos e ratos, afirma que Stálin, como proletário, “mostrou que os trabalhadores não só podem governar, como devem. […] Stálin foi um operário, pobre, e chegou [ao poder]. O trabalhador sempre pôde fazer isso.”
Coincidentemente usando as mesmas palavras de Manoel, Queops, morador de um bairro do Tamanduateí (São Paulo), onde há inúmeras casas de madeirite e rua cascalhada, e a ampla maioria do povo é marginalizada pela prefeitura, seja por sua raça ou classe, diz “[Stálin] mostra que a classe trabalhadora, a classe operária pode, e deve, governar o mundo – e governará como ninguém. De que um homem simples, pobre, um homem trabalhador, filho de pessoas pobres, de um pai um tanto quanto comum, alcoólatra, de uma mãe bastante simples, enfim… de profissões bem simples também, de que esse homem vindo dessas condições pode e deve […] ser um dos responsáveis pela verdadeira felicidade coletiva, que será fruto de um mundo governado por essas pessoas simples, por essa classe operária. O Stálin representa, sobretudo, isso para mim.”
Outro morador da zona leste de São Paulo, Gustavo, metroviário, destacou não só a figura de Stálin como um trabalhador que subiu ao poder e liderou a nova sociedade socialista, mas “que quem tem melhor condições de conduzir nosso povo é o nosso próprio povo. Os melhores representantes são aqueles que vieram das partes mais marginalizadas, porque são elas que sabem quais são as reais demandas da grande maioria da população, são essas pessoas que estão mais dispostas a construir uma sociedade nova e estão dispostas até as últimas consequências […] O exemplo que ele nos dá é que você precisa, para ser um revolucionário, é  ser um filho do nosso povo e estar inserido diretamente [nele], entendendo suas demandas, reconhecendo seu linguajar, suas rotinas, suas práticas […] porque é isso que lhe dá autoridade moral para conduzir esse povo à revolução.”
Giulia, aprendiz da ferrovia, de maneira sucinta, pontuou o papel de Stálin na história, não por seus principais feitos políticos, militares e econômicos, mas seu aspecto simbólico: “vejo Stálin como exemplo, como a personificação de que o povo, quando se organiza, é capaz de ser protagonista de sua própria história.”
Da mesma forma, fala Jorge, estamparista no ABC Paulista. Ele diz que Stálin “é uma referência para contrapor a narrativa dominante […] de que quem vai estar no centro da revolução brasileira, de quem vai ditar os caminhos da revolução, serão os intelectuais, os acadêmicos. […] [Stálin] mostra que é possível, como é necessário, que a própria classe operária, aqueles mais fodidos, aqueles que não têm nada, aqueles que são miseráveis, se formem enquanto quadros, estudem, trabalhem, militem e ainda sejam os comandantes da revolução brasileira. Esse é o principal aprendizado.”
No aspecto moral, na superação de velhas concepções e na construção de uma nova ética e moral coletiva socialista soviética, Isis, universitária e bolsista, pauta que “ele é o exemplo que é possível  construir um homem e uma mulher de novo tipo, com valores ligados ao trabalho coletivo, ligados à solidariedade, à defesa do socialismo, do combate à exploração […], e esses homens e mulheres estão entre nós.”
Karen, trabalhadora da cultura, corrobora com Isis ao opinar que “Stálin foi um homem do povo, exemplo de abnegação, que dedicou sua vida para a libertação da classe trabalhadora. Stálin e a URSS nos mostram que não precisamos nos contentar com o desemprego, baixos salários, falta de moradia digna, não ter o que comer, não ter uma educação de qualidade, falta de saneamento básico.”
Pontuando também a questão moral, Ricardo, metroviário, relembra os tempos da guerra. “Nenhum passo atrás. Acho que essa não rendição me motiva muito. Essa ideia de não se render é uma ideia que fiz dela minha. Às vezes, a gente está com alguma dificuldade, algum problema, alguma derrota… [com essa ideia] eu tenho para mim que eu não vou me render. Então a União Soviética, o povo soviético não se rendeu, o povo vietnamita não se rendeu, nossos heróis não se renderam, então a gente não vai se render. Eu penso em Stálin e penso nisso: não se render e continuar a procurar um caminho nos momentos bons, ruins e nos mais difíceis. Stálin é isso para mim.”
Cabe reforçar que em todas as declarações, os entrevistados buscavam falar na primeira ou terceira pessoa do plural. Obviamente que destacavam seus feitos individuais, mas reforçaram a ideia de que Stálin não era um ser que terminava em si mesmo, um homem isolado de seu coletivo – ele era parte de um contingente interminável de revolucionários e revolucionárias, de operários e operárias que construíram coletivamente o socialismo, sendo Stálin um representante e, não, a totalidade. Stálin era consequência e não a causa.
Edival Nunes Cajá sintetiza com muita clareza. “[Stálin] começa a investigar [as injustiças da sociedade] no campo da sociologia, da história, da economia, conhece o Marxismo e se identifica profundamente. Percebe que Marx conseguiu identificar não apenas a classe que trabalhava e sofria, mas viu nessa classe o sujeito histórico da transformação de toda a humanidade: o proletariado. Uma vez tomada a consciência de classe, poderá transformar objetivamente a história [de toda] a humanidade. Não é uma revolução burguesa, derrotar uma classe para promover outra. […] Pelo contrário, o proletariado derrubará a classe da burguesia, dos ricos, do capital, dono dos bancos, das indústrias, não apenas para instalar a classe operária no poder, mas para acabar com as classes sociais, não é para remendar a sociedade de classes, mas para transformá-la em uma sociedade sem classes. […] Os homens serão todos técnicos e sábios ao mesmo tempo, trabalhando apenas quatro horas por dia – que é necessário para produzir o que necessita e ainda ter o excedente para cuidar das crianças e dos idosos.
Assim é a concepção da sociedade comunista. Então, Stálin não foi só um grande militante na clandestinidade, mas também foi um grande estadista com o triunfo da Revolução de Outubro de 1917. Como Ministro das Nacionalidades, ajudou muito a Lênin, a quem coube a tarefa de construir o Estado socialista. E ele prosseguiu, enfrentou a pior crise do sistema capitalista mundial – que foi o nazifascismo, que foi a Segunda Guerra Mundial. Infelizmente perdemos muitos quadros na guerra, milhões de quadros, o que desfalcou bastante o partido e houve toda uma campanha depois da vitória do socialismo, da vitória da União Soviética […] e esta campanha [contra Stálin e a URSS] foi o cavalo de troia do anticomunismo que se vive hoje no mundo. Esta euforia da direita e do anticomunismo não é senão uma consequência de toda uma campanha contra a experiência socialista mais exitosa no mundo que era a União Soviética, […] muitas vezes promovendo o trotskismo. Entretanto, podemos afirmar que há uma nova experiência retomando as lutas por meio da CIPOML [Conferência Internacional de Partidos e Organizações Marxista-leninistas] e em vários países do mundo ressurge uma nova forma de organização dos partidos e organizações marxista-leninistas no sentido de reconstruir a experiência internacionalista e a experiência soviética.”
Não há conclusão mais óbvia, o aniversário de 140 anos de Stálin demonstrou que ele ainda continua e continuará imortalizado na memória das lutas do proletariado e amplamente conhecido e referenciado entre os trabalhadores organizados, sempre lembrado por sua humildade e sacrifícios pela libertação de toda a humanidade junto aos milhares de operários e operárias dos diversos partidos comunistas no mundo.
Tais declarações mostram, inclusive, que a campanha anticomunista contra a URSS falha, porque amplos materiais, memórias, argumentos, documentos continuam vivos e são lentamente liberados em todos os países para que trabalhadores e trabalhadoras sigam descobrindo a verdade sobre o que foi uma história de produção sua: socialismo, o poder dos explorados.
Biografia de Josef Stalin, o fiel discípulo de Lênin
Por Luis Alves, publicado originalmente em 24/03/2012.
Jossif Vissarionóvich Dzugasvili Stálin nasceu em 21 de dezembro de 1879 em Gori, província de Tífilis, Geórgia, região da Transcaucásia. Seu pai, Vissarion Ivanovich, era filho de camponês pobre, tornou-se sapateiro autônomo e, depois, operário de uma fábrica de calçados. Sua mãe, Catarina Gueorguievna, era filha de servo (camponês pobre).
A Rússia era o país mais atrasado da Europa, tinha como base a agricultura caracterizada pelo latifúndio e regime de servidão. Mas nas últimas décadas, o capitalismo avançava, lutas operárias vinham acontecendo, formando-se um campo fértil às ideias revolucionárias. Círculos clandestinos para estudo e divulgação do marxismo foram formados por intelectuais. O desafio era como fundir a teoria marxista com o movimento operário, o que foi conseguido por Lênin (V. A Verdade, no 49), com a União de Luta pela Emancipação da classe operária de São Petersburgo. Em 1898 fundou-se o Partido Operário Social-Democrata da Rússia (POSDR).
No seminário de Tífilis, Stálin conheceu a literatura marxista, entrou em contato com grupos ilegais, organizou um círculo de estudos e ingressou no POSDR no ano de sua fundação, sendo expulso do seminário no ano seguinte, em razão de suas atividades.
A partir de então, dedicou-se inteiramente à atividade revolucionária, editando publicações clandestinas, redigindo textos e artigos e fazendo a propaganda do marxismo entre os operários.
O lutador e o dirigente
No levante operário de 1905, as divergências dentro do PSODR se clarificaram: de um lado, os mencheviques, defendendo meios pacíficos de luta e, de outro, os bolcheviques que propunham transformar a greve operária em insurreição armada. Stálin defendeu esta posição firmemente na Primeira Conferência Bolchevista de toda a Rússia, ocasião em que se encontrou com Lênin pela primeira vez e, juntos, redigiram as resoluções do Encontro. A insurreição aconteceu em dezembro de 1905 e foi derrotada.
Stálin redobrou o trabalho de base, concentrando suas atividades na região petrolífera de Baku: “Dois anos de atividade revolucionária entre os operários da indústria petrolífera temperaram-me como lutador e como dirigente. Conheci pela primeira vez o que significava dirigir grandes massas operárias”.
Em 1912, na Conferência de Praga (Checoslováquia), dada a impossibilidade de realizá-la na Rússia, os bolcheviques decidem organizar-se em partido independente, afastando completamente os mencheviques e adotando o nome POSDR (b), isto é, bolcheviques. Stálin estava na prisão, de onde fugiu pouco depois, participando com Lênin da criação do jornal PRAVDA (A Verdade). Indicado para dirigir o grupo bolchevique na Duma (parlamento russo), foi detido mais uma vez e enviado para longínqua cidade da Sibéria, de onde só sairia com a revolução (burguesa) de fevereiro de 1917.
A jornada de luta dos operários, que acontecia desde o início do ano de 1917, se amplia e obtém a adesão de muitos soldados sublevados em razão das precárias condições em que enfrentavam os alemães (1ª guerra mundial). A insurreição culmina com a derrubada do czarismo e constituição de um governo burguês, provisório. Livre, Stálin se desloca para Petrogrado e no dia 16 de abril está à frente de uma delegação operária, recebendo Lênin, que retornava do exílio, na estação Finlândia. Uma semana depois, realizou-se a sétima Conferência e ele foi eleito para o birô político do Partido Bolchevique.
Organizam-se os sovietes (conselhos) de operários, camponeses e soldados, que em pouco tempo instauram uma situação de dualidade de poder. Lênin propõe a passagem da revolução democrático-burguesa para a revolução socialista e em julho/agosto realiza-se o II Congresso do Partido. Alguns delegados defenderam que não era o momento para esse salto, por falta de apoio dos camponeses ou mesmo porque só era possível construir o socialismo com a vitória da revolução nos países europeus. Stálin pronunciou: “… É necessário desprezar essa ideia caduca de que só a Europa pode nos indicar o caminho. Há um marxismo dogmático e um marxismo criador. Eu me situo no terreno do segundo”. Esta era também a visão de Lênin e da esmagadora maioria dos bolcheviques, o que tornou possível a revolução socialista de outubro.
Stálin esteve à frente de todos os preparativos para a insurreição e integrou o grupo que conduziu o Comitê Militar Revolucionário. O levante começou no dia 6 de novembro, à noite. No dia 7, rapidamente, as tropas revolucionárias tomaram os principais pontos de Petrogrado e o Palácio de Inverno, onde se tinha refugiado o governo provisório. Quando o II Congresso dos Sovietes se instalou naquele mesmo dia, proclamou: “… apoiando-se na vontade da imensa maioria dos operários, soldados e camponeses e na insurreição triunfante levada a cabo pelos operários e a guarnição de Petrogrado, o Congresso toma em suas mãos o poder”.
No período de 1917 a 1924, Stálin atua ao lado de Lênin na condução do Partido e dos negócios do Estado. Durante a guerra contrarrevolucionária desencadeada pela burguesia e pelos latifundiários russos, e pelos exércitos de uma dezena de potências estrangeiras, destacou-se como estrategista militar, principalmente nas frentes onde havia insegurança ou indisciplina. Sempre envolvendo a massa popular da região, Stálin conseguia debelar o foco do problema e devolver a confiança e o ânimo às tropas vermelhas que voltavam a obter êxitos.
Transformando o sonho em realidade
 Em (1922), no XI Congresso, Stálin, que sempre esteve ao lado de Lênin, foi eleito para o cargo de secretário-geral e assumiu a tarefa de organizar a união livre e voluntária dos povos, vindo a constituir a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Com o agravamento da saúde de Lênin, Stálin assumiu a direção do XII Congresso, propugnando o combate à tendência de retorno ao capitalismo, por má interpretação da Nova Política Econômica (NEP) em alguns setores da economia e propôs um programa que acabasse com a desigualdade econômica e cultural entre os povos da URSS.
Lênin faleceu no dia 21 de janeiro de 1924. No XIV Congresso (1925), definiu-se como caminho para fortalecer o socialismo na URSS: “Transformar nosso país, de um país agrário num país industrial, capaz de produzir com seus próprios meios, as máquinas e ferramentas necessárias”. Não havia unanimidade quanto a essa estratégia, à qual se opunham os dirigentes Kamenev e Zinoviev, que propunham maior fortalecimento da agricultura e um ritmo de crescimento industrial mais lento. Trostki também se opunha, argumentando que Stálin estava desviando energias para o desenvolvimento econômico interno, em vez de canalizá-la para a revolução proletária mundial. Na concepção de Stálin, a melhor forma de contribuir com a revolução mundial, de fortalecer o inter- nacionalismo proletário, seria fortalecendo o socialismo na URSS.
Para implementar a industrialização, a URSS só podia contar com as próprias forças. Havia de contar com o entusiasmo da classe trabalhadora e eliminar ideológica e organicamente os setores que se opunham à aplicação das resoluções do Congresso. “Não se podia alcançar a industrialização sem a destruição ideológica e orgânica do bloco trotskista-zinovievista” (Stálin, Instituto Mel).
A luta contra os kulaks e os restauradores do capitalismo
O XV Congresso, realizado em 1927, constatou os êxitos da industrialização. Stálin ressaltou que era necessário avançar, superando o único obstáculo existente ainda, o atraso na agricultura e indicou a solução: “passagem das explorações camponesas dispersas para grandes explorações unificadas sobre a base do cultivo comum da terra com técnica nova e mais elevada”. Destacou que essa agrupação deveria se dar pelo exemplo e pelo convencimento, não pela coerção dos pequenos e médios agricultores.
A Revolução de 1917 havia eliminado o latifúndio, transformando-o em sovkozes (fazendas estatais) e incentivava os pequenos camponeses a se organizarem em cooperativas, os kolkhozes. Agora, tratava-se de intensificar essa campanha e de neutralizar os camponeses ricos (kulaks), setor que se fortalecera durante a Nova Política Econômica (NEP).
Dentro do Partido, um grupo liderado por Bukharin, Rikov e Tomski se opôs à repressão aos kulaks, defendendo um processo gradual e pacífico de coletivização da terra. Stálin avaliava que o grupo pretendia na verdade restaurar o capitalismo e agia como agentes dos camponeses ricos e promoveu “o esmagamento dos capitulacionistas”. Em 1927, em comemoração ao XII aniversário da Revolução, escreveu: “O ano transcorrido foi o ano da grande virada em todas as frentes de edificação socialista”. Com a liquidação dos kulaks, procedeu-se à coletivização total do campo. Stálin criticou excessos praticados em alguns lugares onde se impuseram medidas para as quais os camponeses não estavam preparados e ensinou aos militantes: “…não se pode ficar à retaguarda do movimento, já que retardar-se significa afastar-se das massas, mas tampouco deve-se adiantar, já que isto significa perder os laços com as massas” (J. Stálin, Problemas do Leninismo).
Com base nos resultados alcançados, o informe dado por Stálin no XVI Congresso (1930) afirmou: “nosso país entrou no período do socialismo”. O congresso aprovou o primeiro plano qüinqüenal, cuja meta era a reconstrução de todos os ramos da economia com base na técnica moderna. Eis o balanço apresentado por Stálin no XVII Congresso (1934): “…Triunfou a política de industrialização, da coletivização total da agricultura, da liquidação dos Kulaks, triunfou a possibilidade de construção do socialismo num só país”. É lançado o segundo plano qüinqüenal, que prevê realizações em todos os ramos da economia e nos campos da cultura, das ciências, da educação pública e da luta ideológica.
Em quatro anos e três meses, o plano estava cumprido. Afigurava-se agora a necessidade de uma revolução cultural no sentido de capacitar quadros oriundos do proletariado para que dominassem a técnica e assumissem funções de direção no governo soviético. A partir do apelo de Stálin, surge o movimento stakanovista “ iniciado na bacia do Donets, na indústria do carvão, se espalhou por todo o país. Dezenas e centenas de milhares de heróis do trabalho deram exemplo de como se devia assimilar a técnica e conseguir aumentar a produtividade socialista do trabalho na indústria, na agricultura e no transporte”. (Stálin, Instituto Mel).
Em 1936, o XVIII Congresso dos sovietes aprovou a nova constituição da URSS, a constituição do socialismo, garantindo não apenas liberdades formais como as constituições burguesas, mas “amplíssimos direitos e liberdades aos trabalhadores, material e economicamente, assegurados por todo o sistema da economia socialista que não conhece as crises, a anarquia nem o desemprego”.
O XVIII Congresso ocorreu em 1939. Enquanto os soviéticos comemoravam êxitos, os países capitalistas viviam profunda crise e Hitler já ocupava as nações vizinhas da Alemanha. Em relação à política externa, o congresso aprovou a orientação de Stálin no sentido de se continuar aplicando a política de paz e de fortalecimento das relações com todos os países, não permitindo que a URSS seja arrastada a conflitos por provocadores.
Em nível interno, a tarefa lançada foi a de ultrapassar nos 10 ou 15 anos seguintes os países capitalistas no terreno econômico. No seu informe ao XVIII Congresso, Stálin concluía: “É possível construir o comunismo em nosso país, mesmo no caso de se manter o cerco capitalista”.
Comandando a guerra contra Hitler e o nazifascismo
O ano de 1940 registrou um aumento sem precedentes da produção na URSS e em 1941, quando o povo soviético se preparava para comemorar novas vitórias, Hitler rompeu o pacto de não-agressão assinado anteriormente com a URSS e invadiu o território socialista. Para centralizar a defesa e coordenar a luta de libertação nacional, o Conselho de Comissários do Povo criou o Comitê de Defesa do Estado, nomeando Stálin seu presidente. O povo respondeu com toda disposição e os invasores, que acreditavam dominar a URSS em dois meses, fracassaram. Em 1944, se retiravam humilhados.
“Para Berlim!”, bradou Stálin, e o Exército Comunista foi libertando do jugo capitalista os países da Europa Oriental, até erguer a Bandeira Vermelha na capital alemã no dia 9 de maio de 1945.
A URSS foi o país que mais sofreu com a agressão nazista, tanto em perdas econômicas quanto em humanas, mas, poucos anos depois, já se recuperava e alcançava os níveis anteriores de produção na indústria e na agricultura, apesar da guerra fria (corrida armamentista, boicote econômico) lançada pelas potências capitalistas, especialmente os EUA, rompendo o acordo assinado na conferência de Ialta que resultara na criação da ONU.
No dia 5 de março de 1953, morreu Stálin, deixando uma lacuna jamais preenchida na URSS e enlutando também o movimento comunista em todo o mundo. Em toda a União Soviética, os operários fizeram cinco minutos de silêncio e em Moscou, 4 milhões e meio de pessoas acompanharam o enterro do seu herói e líder. Também em vários países os operários pararam para se despedir de Stálin.
Sobre uma infinidade de acusações lançadas sobre Stálin pela burguesia mundial e pelos dirigentes russos após o XX Congresso do PCUS, fala o genial arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer: “Foi tudo invenção capitalista”.
Luiz Alves (Publicado no Jornal A Verdade, nº 51)

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O Centenário de Nelson Mandela:

18/07/2018.



Para contextualizar a importância de Nelson Mandela é necessário conhecer, previamente, ainda que superficialmente, a história da África do Sul.

Antes de qualquer coisa, lá se encontram alguns dos mais antigos sítios arqueológicos e fósseis humanos do mundo, recuperados em cavernas na província de Gauteng. Atualmente a área é um Patrimônio Mundial pela UNESCO e foi denominada o Berço da Humanidade.

Em 1652, um século e meio após a descoberta da Rota Marítima do Cabo, a Companhia Holandesa das Índias Orientais fundou uma estação de abastecimento que mais tarde viria ser a Cidade do Cabo. Esta se tornou uma colônia britânica em 1806.

A colonização europeia expandiu-se na década de 1820 com os Bôeres (colonos de origem Holandesa, Flamenga, Francesa e Alemã), enquanto os colonos britânicos se assentaram no norte e no leste do país. Nesse período, conflitos surgiram entre os grupos nativos Xhosa, Zulu e Afrikaners que competiam por território.

Durante a década de 1830, cerca de 12 mil bôeres (mais tarde conhecido como Voortrekkers), partiram da Colônia do Cabo, onde tinham sido submetidos ao controle britânico. Eles migraram para as regiões que mais tarde se tornariam Natal, Estado Livre de Orange e Transvaal. Os bôeres fundaram a República Sul-Africana (atual Gauteng, Limpopo, Mpumalanga e províncias do oeste e do norte) e o Estado Livre de Orange (Free State).

A descoberta de diamantes, em 1867, e de ouro, em 1884, no interior do país iniciou a “Revolução Mineral” e o aumento do crescimento econômico e da imigração. Isto intensificou a subjugação dos povos indígenas pelos sul-africanos europeus. A luta para controlar esses importantes recursos econômicos foi um fator decisivo nas relações entre os europeus e os nativos e também entre os bôeres e os britânicos.

As repúblicas bôeres resistiram com sucesso às invasões britânicas, durante a Primeira Guerra dos Bôeres (1880-1881), usando táticas de guerrilha, que foram bem adaptados às condições locais. Os britânicos voltaram com um número maior de homens, com mais experiência e com uma nova estratégia na Segunda Guerra dos Bôeres (1899-1902), mas sofreram pesadas perdas durante os conflitos, apesar de terem sido os vencedores. Dentro do país, as políticas anti-britânicas entre brancos sul-africanos focavam na independência.

Durante os períodos coloniais holandês e britânico, a segregação racial era majoritariamente informal, apesar de algumas legislações terem sido promulgadas para controlar o estabelecimento e a livre circulação de povos nativos.

Oito anos após o fim da Segunda Guerra dos Bôeres e após quatro anos de negociação, uma lei do parlamento britânico (Ato da África do Sul de 1909) criou a União Sul-Africana em 31 de maio de 1910. A União era um domínio britânico que incluía as antigas colônias holandesas do Cabo e de Natal, bem como as repúblicas do Estado Livre de Orange e de Transvaal.

A Lei das Terras dos Nativos de 1913 restringiu, severamente, a propriedade de terra por negros. Nessa época os nativos controlavam apenas 7% do território do país. A quantidade de terra reservada para os povos nativos foi mais tarde ligeiramente aumentada.

Rolihiahia Dalibhunga Mandela, conhecido como Nelson Mandela, nasceu em 18 de julho de 1918 em Mvezo de uma família de nobreza tribal, o clã Madiba, da etnia Xhosa.

Filho de pais analfabetos, Mandela era um dos treze filhos de Nosekeni Fanny, terceira esposa de seu pai, Nkosi Mphakanyiswa Gadla Mandela. Desde que nasceu, Nelson estava predestinado para que ocupasse um cargo de chefia tribal.

Em 1925 ingressou na escola primária, onde recebeu da professora o nome de Nelson, em homenagem ao Almirante Horatio Nelson, seguindo um costume de dar nomes ingleses a todas as crianças que frequentavam a escola.

Com nove anos, com a morte do seu pai, Mandela foi levado para a vila real, onde ficou aos cuidados do regente do povo Tambu. Ao terminar sua formação elementar, Entrou na escola preparatória Clarkebury Boarding Institute, um colégio exclusivo para negros, onde estudou cultura ocidental. Após ingressou no Colégio Healdtown, onde era interno.

Em 1931, a União Sul-Africana tornou-se efetivamente independente do Reino Unido, com a promulgação do Estatuto de Westminster.

Em 1934, o Partido Sul-Africano e o Partido Nacional se fundiram para formar o Partido Unido, buscando a reconciliação entre os africânderes e os brancos anglófonos.

Em 1939, o partido se dividiu sobre a entrada da União na Segunda Guerra Mundial como uma aliada do Reino Unido, uma decisão que os seguidores do Partido Nacional se opuseram.

Ainda em 1939, Mandela ingressou no curso de Direito, na “Universidade de Fort Hare”, a primeira universidade da África do Sul a ministrar cursos superiores para negros. Foi lá, que fez amizades com pessoas que mais tarde formariam o núcleo de comando do Congresso Nacional Africano. Por se envolver em protestos, junto com o movimento estudantil, contra a falta de democracia racial na instituição, foi obrigado a abandonar o curso.

Mudou-se para “Johanesburgo”, onde se deparou com o regime de terror imposto à maioria negra.

Em 1943, concluiu o bacharelado em Artes pela Universidade da África do Sul. Após obter autorização, continuou os estudos de Direito, por correspondência, na universidade de Fort Hare. Mais tarde receberia o título de "Doutor Honoris Causa", na tentativa de compensar a sua expulsão.

A segregação racial, a falta de direitos políticos e civis e o confinamento dos negros em regiões determinadas pelo governo branco provocava a luta clandestina do negro.

O principal instrumento de representação política desses negros era o Congresso Nacional Africano (CNA), cujo líder maior era Nelson Mandela.
Junto com Anton Lambede, Walter Sisulu, A. P. Mda e Oliver Tambo, fundou a Liga Jovem do CNA. Com sigla em inglês ANCYL, foi um movimento fundado em 1944 no corpo do Congresso Nacional Africano, na África do Sul.

A intenção era confrontar a imagem conservadora do CNA; tiveram importante papel no combate ao “apartheid”, com atividades que foram desde a desobediência civil às greves de protesto. Muitos de seus membros acabaram saindo, criando o Congresso Pan-Africanista (CPA), no ano de 1959.

A ANCYL esteve banida de 1960 até 1990, com o fim do regime segregacionista.

Em 1948, o Partido Nacional foi eleito e chegou ao poder. Esse grupo político reforçou a segregação racial, que já tinha começado sob o domínio colonial holandês e britânico. O Governo Nacionalista classificou todos os povos em três raças, com direitos e limitações desenvolvidas para cada uma. A minoria branca controlava a grande maioria negra. A segregação legalmente institucionalizada ficou conhecida como “apartheid”.

Enquanto a minoria branca sul-africana usufruía do mais alto padrão de vida de toda a África, comparável aos de nações de países desenvolvidos ocidentais, a maioria negra ficou em desvantagem em quase todos os aspectos, como renda, educação, habitação e expectativa de vida.

A Carta da Liberdade, adotada em 1955 pela Aliança do Congresso, exigiu uma sociedade não-racial e o fim da discriminação.

A África do Sul abandonou a Commonwealth em 1961, na sequência de um referendo – onde, obviamente, só pode votar a comunidade branca – que ditou a Proclamação da República. Apesar da oposição dentro e fora do país, o governo manteve o regime do apartheid.

Condenado em 1964 à prisão perpetua, foi libertado em 1990, depois de grande pressão internacional. Recebeu o “Prêmio Nobel da Paz”, em dezembro de 1993, pela sua luta contra o regime de segregação racial.

Mandela foi detido e condenado à prisão perpétua em 1964, alguns anos após uma manifestação do CNA (Congresso Nacional Africano), que terminou no massacre de 67 negros e na declaração da ilegalidade do grupo.

Na década de 1980, aumentou a pressão da sociedade pelo fim do apartheid e pela libertação do líder de oposição. Foi o presidente Frederik De Klerk, que mais tarde recebeu o Prêmio Nobel da Paz, ao lado de Mandela, quem gradualmente derrubou as últimas leis segregacionistas, em 1991.

Em 1983, foi adotada uma nova constituição que garantia uma política de direitos limitados às minorias asiáticas, mas continuava a excluir os negros do exercício dos direitos políticos e civis. A maioria negra, portanto, não tinha direito de voto nem representação parlamentar. O partido branco dominante, durante a era do apartheid, era o Partido Nacional, enquanto a principal organização política negra era o Congresso Nacional Africano (CNA), que durante quase 50 anos foi considerado ilegal.

Em 1960, centenas de líderes negros foram perseguidos, torturados, presos, condenados e assassinados. Entre eles estava Mandela. Preso em 1962, foi condenado em 1964 à prisão perpétua. 

Na década de 80, intensificou-se a condenação internacional ao apartheid que culminou com um plebiscito que terminou com a aprovação do fim do regime.

Eloquentemente e vividamente, Nelson Mandela descreve em detalhes a sua jornada: o desenvolvimento de sua consciência política, seu papel essencial na formação da Liga da Juventude do CNA, seus anos dramáticos na clandestinidade - que levaram a uma condenação à prisão perpétua em 1964 - e o seu agitado quarto de século atrás das grades.

No fim do século XX, alguns países e instituições ocidentais começaram a boicotar os negócios com o país por causa das suas políticas de opressão racial e de direitos civis. Após anos de protestos internos, ativismo e revolta de sul-africanos negros e de seus aliados, finalmente, em 1990, o governo sul-africano iniciou negociações que levaram ao desmantelamento das leis de discriminação e às eleições democráticas de 1994. O país então aderiu à Comunidade das Nações.

Mais tarde, em 1990, sob a liderança do presidente F. W. de Klerk, o governo sul-africano começou a desmantelar o sistema do apartheid, libertando Nelson Mandela, líder do CNA, e aceitando legalizar esta organização, bem como outras antiapartheid. Os passos seguintes no sentido da união nacional foram dados em 1991. A abertura das negociações entre os representantes de todas as comunidades, com o objetivo de elaborar uma Constituição democrática, marcou o fim de uma época perturbada na África do Sul que iniciou-se em 1948 e teve seu fim em 1990, 42 anos, época esta chamada de Apartheid, que, em uma tradução livre de seu significado para o português, seria “segregação racial”.

Em 11 de fevereiro de 1990 Mandela foi libertado — ficou 27 anos preso — e passou a lutar pela reconciliação do país com a sua história e pela harmonia entre as raças.

No dia 10 de abril de 1993, um dos principais líderes do movimento negro da África do Sul, Chris Hani, tombou vítima de dois tiros, diante da própria residência. O que seus assassinos não previram é que essa morte acabaria por acelerar o fim do apartheid.

No mesmo ano, o governo e a oposição negra entraram em acordo quanto aos mecanismos que garantiriam a transição para um sistema político não discriminatório. Foi criado um comité executivo intermediário, com maioria negra, para supervisionar as primeiras eleições multipartidárias e multirraciais, e criado, também, um organismo que ficava encarregado de elaborar uma Constituição que garantisse o fim do Apartheid.

Em abril de 1994, foram realizadas as primeiras eleições multirraciais da história sul-africana. O ANC ganhou as eleições, formando um Governo de unidade nacional, e Nelson Mandela tornou-se o primeiro presidente sul-africano negro.

Madiba também relembra comoventemente os eventos importantes que antecederam o seu triunfo na primeira eleição multirracial realizada na África do Sul em abril de 1994.

Em 1993, Nelson Mandela e o presidente Frederick De Klerk, assinaram uma nova Constituição sul-africana, colocando um ponto final em mais de 300 anos de dominação política da minoria branca. Essa nova Constituição simbolizava o fim oficial do Apartheid, e preparava a África do Sul para um regime de democracia multirracial.

Em 1993 Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz, dividido com o presidente, que junto com Mandela procurava um caminho para o fim da segregação.

Em abril de 1994, houve eleições na África do Sul, quando Mandela foi eleito presidente da República e De Klerk, vice-presidente. Mandela governou até 1999. Foi premiado pela Anistia Internacional, em 2006, pela sua luta em favor dos direitos humanos.

Nelson Rolihlahla Mandela faleceu em Johanesburgo, África do Sul, no dia 5 de dezembro de 2013.

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