Todos os brasileiros e brasileiras, com a rara exceção
dos rentistas, consideram que a taxa de juros no Brasil é altíssima,
o que afeta diretamente a atividade econômica do país, pois consumidores,
empreendedores (grandes e pequenos), famílias endividadas e os governos, gastam
grande parte dos seus recursos no pagamento dos juros reais mais altos do
planeta.
Entretanto, apesar disso ocorrer sistematicamente desde o Plano Real, em 1994, o debate ganhou
notoriedade quando Lula, corretamente, pois em discussão a autonomia/independência
do Banco Central do Brasil.
Para referenciar, porque é
difícil visualizar a montanha de dinheiro que representa essa taxa de juros
estratosférica, apresenta-se alguns números, percentuais em relação ao PIB
brasileiro:
- A despesa com saúde pública no Brasil (leia-se
também a resistência heroica do SUS, durante a pandemia) é atualmente 3,76% do
PIB por ano.
- A Educação custa
6,2% do PIB, para atender 42 milhões de estudantes.
- O INSS gasta 8,18% do PIB ao ano para atender os 36
milhões de beneficiários (que, frise-se pagaram mês a mês, ano após ano, pela
conquista da aposentadoria).
- O pagamento de todos os salários de servidores ativos,
inativos, pensionistas, civis e militares da União custa 3,84% do PIB.
- Toda a arrecadação de Imposto de Renda de
pessoas físicas e jurídicas em um ano totaliza 6,7% do PIB.
A despesa com juros nominais paga
pelo Setor Público totalizou,
a preços atuais, R$ 620,98 bilhões (6,54% do PIB) no acumulado entre fevereiro
de 2022 e janeiro de 2023 (doze meses). Esse valor representa uma elevação de
37,9% na despesa real com juros em comparação a janeiro de 2022, atualizado
pelo IPCA. Dessa
monta, R$ 4,7 bilhões foram pagos pelas estatais, R$ 81,0 bilhões por estados e
municípios, o governo central respondeu por R$ 496,16 bilhões e o Banco
Central pagou R$ 39,0 bilhões.
É isso mesmo, a despesa anual em juros passa de
R$ 620.000.000.000,00 (SISCENTOS E VINTE BILHÕES DE REAIS).
Todos os servidores públicos ativos, inativos,
pensionistas, civis e militares, de todos os poderes da União custam menos de R$ 350
bilhões anuais.
Seria cômico se não fosse trágico, discutir ajuste fiscal sem considerar a
despesa com juros.
A grande falácia econômica, defendida pelos economistas ortodoxos
é que o Estado deveria se comportar como os cidadãos, que em sua economia
doméstica, economizam quando endividados.
O papel do Estado como indutor da economia é condição sine qua non
para conduzir o país ao pleno emprego, pois a expansão dos gastos públicos
possui efeito multiplicador: estimula o investimento privado e contribui para o
crescimento econômico.
Durante a pandemia da covid-19, ficou patente a necessidade de os
governos aumentarem os gastos, adotando medidas emergenciais que pudessem
reduzir o impacto recessivo e preservar vidas. No Brasil, o reconhecimento do
estado de calamidade pública possibilitou a suspensão das amarras fiscais (como
o teto dos gastos) para que o governo tivesse uma margem de manobra maior para
atuar. Mas parece que a lição não foi aprendida e voltamos para o discurso
retrógrado de que o governo precisa reduzir seus gastos e que o aumento da taxa
de juros é o único remédio para a inflação.
O nível de inflação, que é historicamente alto, está
sob controle há quase 30 anos.
Tampouco temos um ambiente político e institucional tão
ruim que justifique esse patamar de juros, a despeito de ter piorado após 2015,
sobretudo com a destituição ilegítima de Dilma Rousseff e a eleição de Bolsonaro em 2018.
Explicar o nível de taxa de juros no Brasil não é fácil. O que é fácil é viver de juros no Brasil.
Esses mais de R$ 620 bilhões em juros que o Estado gasta vai para alguns bolsos, não todos, mas de gente que ganha dinheiro muito fácil, sem precisar trabalhar, sem correr riscos e sem necessariamente morar no Brasil. Não apenas para bancos e instituições financeiras, mas para a classe média alta, que possui aplicações financeiras muito rentáveis, à custa do erário público. Classe média essa que não aceita que haja uma política de transferência de renda para os miseráveis, num país marcado pela desigualdade, já que os R$ 100 bilhões do Bolsa Família anuais vão para pessoas que supostamente não trabalham, embora a maioria seja de trabalhadores avulsos, domésticas, porteiros, ambulantes, camelôs etc.
O pensamento da classe média brasileira se forma
a partir da Bolsa de Valores, na
ladainha repetida diariamente por analistas econômicos nos telejornais: se
a Bolsa sobe, é “bom para a economia”, se a bolsa cai “é ruim para a economia”.
Aumentar o valor do Bolsa Família,
faz baixar a Bolsa de Valores. A “autonomia do Banco Central faz a
Bolsa de Valores subir. Parece óbvio, compreender esses mecanismos de formação
de opinião. Quem paga a banda, escolhe a música!
É rentável, e
muito, viver de juros no Brasil. Para isso basta ter um pouco
de dinheiro, e nem é tanto assim. Uma poupança de alguns anos de trabalho, a
depender da atividade profissional, já garante o sustento de um indivíduo. Ou
então uma herança de uma das famílias que nunca trabalhou. Não
precisa empreender, contratar, comprar insumos e nem acordar cedo e pegar um
ônibus lotado. Basta viver de juros, no Brasil é muito fácil.
Aliás, como é alto o patamar de juros no Brasil, não é?
E como é grande o consenso sobre a importância de ter
técnicos hiper isentos para definir esse nível alto de juros!
Mas ainda carecemos de razões que expliquem esse nível
de juros, ou não?
Com a palavra os técnicos “hiper isentos” do Banco
Central independente e autônomo!!!
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