Entenda a
política econômica de terra arrasada, proposta por Guedes e Bolsonaro para o
ano de 2023. Saliente-se que áreas sensíveis como políticas de igualdade racial
e para as mulheres, dentre outras, NÃO
FORAM PREVISTOS RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS. Em contrapartida, em 2023, de cada
R$ 100 voltados para políticas públicas, pelo menos R$ 15 serão gastos por
indicação do relator do orçamento e partidos que controlam o orçamento
secreto”, revela Inesc.
Orçamento
2023: Análise da destruição
Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/624663-orcamento-2023-analise-da-destruicao
Acesso em 09/12/2022
09 Dezembro 2022
Bolsonaro/Guedes projetaram
a implosão do Estado no próximo ano. Quais são os cortes que
golpeiam Saúde, Educação e áreas essenciais.
Veja como o Centrão fatura com a penúria e entenda a bomba que
precisa ser desarmada na transição.
O artigo foi elaborado pelo Instituto de Estudos
Socioeconômicos (Inesc) e publicado
por Outras
Palavras, 06-12-2022.
Eis o artigo.
Desde que se iniciou o processo
de transição do atual governo para o novo mandato de Lula, o
descalabro da gestão federal tem vindo à tona, em detalhes, em praticamente
todas as áreas do Estado. A destruição não esperou a virada do ano, e
muitos setores já são submetidos a bloqueios de verbas com o objetivo de fechar
o ano sem estourar os gastos. Caso notório é o das universidades e institutos
federais, que não têm verba em caixa para pagar salários e contas ainda em
dezembro.
Entretanto, o que a análise
do Projeto
de Lei Orçamentária Anual 2023, elaborada pelo Inesc,
mostra é que a implosão da capacidade operacional do Estado brasileiro é mais
que uma contingência ou incompetência, um projeto. O dinheiro que faltará para
as políticas essenciais para a garantia dos direitos humanos não foi poupado
nem desonerações fiscais nem na reserva de verbas para assegurar a base
parlamentar no Congresso.
Entenda, pela detalhada análise
do Inesc,
a bomba orçamentária que precisará ser desarmada ainda no processo de transição
de governo.
PLOA 2023:
continuidade do desmonte das políticas sociais
O Projeto de Lei
Orçamentária Anual (PLOA) 2023,
encaminhado pelo Executivo ao Legislativo em 31/08,
apresenta, mais uma vez, expressivos cortes nas políticas sociais em detrimento
da garantia de direitos e dos investimentos necessários para nos tirar da atual
crise econômica e social. O Projeto de Lei também evidencia
o pacto do governo de Jair Bolsonaro com o “centrão”, já que não faltam
recursos para as emendas do orçamento secreto.
Algumas questões preocupantes que
destacamos deste PLOA são: a redução das despesas discricionárias; o
aumento dos recursos para emendas parlamentares, em especial as emendas de
relator, que ficaram conhecidas como “orçamento secreto”; o incremento das
desonerações tributárias; a frustração da promessa de um Auxílio Brasil mais
robusto; e os cortes em políticas garantidoras de direitos.
O desmonte generalizado das políticas
sociais constatado em nosso Balanço Geral do Orçamento da União (2019-2021)
continuará em 2023, caso o PLOA seja aprovado como está pelo Congresso
Nacional. O próximo governo terá um enorme desafio para conseguir combater as
desigualdades sociais que se aprofundaram nos últimos anos e garantir os
direitos humanos. Veja, a seguir, a análise do PLOA 2023 por
área:
Panorama
geral e econômico
Parte expressiva dos recursos
destinados às políticas sociais e ambientais é discricionária, isto é, aquelas
que não são obrigatórias e estão sujeitas aos cortes. O Teto de
Gastos segue sendo a maior ferramenta para a redução de despesas do
governo federal, afetando, principalmente, as discricionárias. Elas
representarão apenas 6,3% das despesas primárias, ante 8,4% em 2022. Em termos
absolutos, isso significa somente R$ 98,98 bilhões de um total de R$ 2,3
trilhões de despesas primárias.
Os investimentos públicos também
são financiados com recursos discricionários e, novamente, receberão menos
verba. A proposta orçamentária de 2023 do governo de Jair Bolsonaro reduz
em 50,4% os investimentos em relação à 2022, chegando a apenas R$ 22,48
bilhões.
O Teto de Gastos é
anualmente corrigido pela inflação, contudo, antes da PEC dos Precatórios,
transformada em Emenda Constitucional 113/2021, o Teto era calculado
levando em conta a inflação de junho a junho. A PEC alterou a base
de cálculo para janeiro a dezembro do ano de elaboração da lei orçamentária. Se
o cálculo anterior à PEC resultaria em um aumento de 11,89% (IPCA de
12 meses a contar de junho de 2022), o reajuste do Teto este ano é de apenas
7,2%. Em termos absolutos, a alteração da metodologia de cálculo do Teto
significou uma redução de R$ 80,6 bilhões das despesas dentro do Teto de Gastos para
2023.
Em outras palavras, a correção
dos gastos para 2023 resulta em menor disponibilidade de recursos dentro do
Teto para o pagamento de despesas discricionárias. A “folga” do Teto será
utilizada, principalmente, para o pagamento de despesas obrigatórias, e inclui
reajuste de R$ 14,4 bilhões para servidores públicos.
O prometido Auxílio Brasil a
R$ 600 ficou de fora do orçamento, mantendo-se o valor de R$ 405. A mensagem
presidencial apenas promete dialogar com o Congresso Nacional para
alcançar em 2023 o valor mensal de R$ 600. Se esse aumento for aprovado pelos
parlamentares, o custo adicional seria de R$ 53,14 bilhões.
Orçamento
Secreto Institucionalizado
Se as despesas discricionárias já
estão espremidas pelo Teto de Gastos, a chegada do orçamento secreto foi o
golpe final ao planejamento adequado desses parcos recursos. Dos R$ 98,98
bilhões previstos para despesas não-obrigatórias, R$ 19,4 bilhões destinam-se
às emendas do relator-geral (RP-9), e valor equivalente às emendas individuais
e de bancada. Isso significa que 39,2% das despesas discricionárias, ou R$ 38,8
bilhões, estarão comprometidas com emendas parlamentares para 2023, valor bem
mais alto do que os 19,2% autorizados em 2022. Em suma, o Congresso Nacional caminha
a passos largos para o controle do orçamento público.
As emendas parlamentares são
recursos decididos pelos parlamentares para seus redutos eleitorais, sem
maiores relações com o planejamento das políticas públicas setoriais. As
emendas de relator, por sua vez, são muito mais problemáticas, pois elas são uma
manobra orçamentária que permite a barganha entre o Planalto e
setores do Congresso
Nacional às custas do dinheiro público, conforme analisado
em estudo do Inesc. Devido à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de
2023, aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente, elas têm
como teto a soma das emendas individuais e de bancada, ou seja, o total dos
valores distribuídos a 513 deputados federais e 81 senadores. A falta de
critérios de distribuição significa valores bilionários distribuídos para as bases
do governo e para o centrão.
A grande novidade do orçamento
secreto no PLOA 2023 é que ele não seria mais secreto, pois
estão sendo adotadas medidas de transparência. Entretanto, uma análise simples
das informações disponibilizadas demonstra como estamos longe de saber quem
está recebendo esses recursos. Na Lista dos endereços dos sítios eletrônicos
dos Ministérios que
contêm as solicitações que justificaram as emendas do relator-geral do PLOA não
existe um mecanismo que aglutine e organize os dados. Enquanto a lista do
Ministério da Economia se resume a um link sem destino, na Educação,
trata-se de uma planilha vazia, e nos ministérios da Infraestrutura e da
Cidadania foi publicada uma lista de ofícios. Apesar da pressão do STF em
2021 pela transparência das RP-9, o que temos atualmente é
um orçamento secreto institucionalizado, bagunçado e bilionário, ou seja, uma
via aberta para a corrupção. Denúncias como as das fraudes no SUS revelam
apenas a ponta do iceberg.
Não há Teto
quando o assunto é desoneração tributária
Enquanto os gastos orçamentários
diretos sofrem com a austeridade fiscal, as desonerações tributárias, que
também penalizam as metas fiscais, seguem sua trajetória histórica de aumentos
consecutivos e sem freios: são mais de R$ 300 bilhões anuais. O PLOA 2023 prevê
um incremento de R$ 80,2 bilhões neste valor, divididos em R$ 52,9 bilhões para
mitigar os efeitos do choque de preços dos combustíveis e R$ 27,2 bilhões para
outras desonerações de “ganhos de eficiência econômica”, que incluem a extinção
do Condecine e a redução da alíquota do PIS/COFINS sobre
a receita financeira.
Mesmo que a redução do preço dos
combustíveis tenha efeito positivo na inflação, não deixa de ser uma medida
regressiva, pois atende especialmente a classe média e aos ricos, que transitam
mais pelas cidades com automóveis individuais motorizados. A queda não incidiu
da mesma forma sobre o diesel, combustível responsável pelo transporte de
cargas e transporte público.
Além disso, é importante
sinalizar outros efeitos dessa medida e entender que a estratégia de
desoneração não era a única que poderia ter sido utilizada. Primeiro, as
desonerações afetarão principalmente o PIS/COFINS,
tributos que financiam a Previdência Social, sempre dita como
muito cara e deficitária. Segundo, a estratégia de aumentos dos incentivos
fiscais sem medidas de compensação vai contra a Lei de Responsabilidade
Fiscal e aumenta o déficit fiscal, o que implica mais
cortes em despesas no futuro. Além disso, os incentivos fiscais não possuem o
mesmo monitoramento dos gastos diretos, pois a maioria das desonerações que
temos hoje possuem prazos indeterminados e nenhum processo de revisão, enquanto
os gastos orçamentários são revisados anualmente na LOA.
Por fim, é importante ressaltar
que o setor de combustíveis fósseis já é altamente subsidiado no Brasil e
outras políticas de controle de preços são possíveis. Além disso, o valor dos
recursos desonerados para aliviar o choque de combustíveis é praticamente igual
aos recursos necessários para os R$ 600 do Auxílio Brasil (R$ 52,9 bi
contra R$ 53,14 bi). Como toda escolha no orçamento público, trata-se de uma
opção política: privilegiou-se os dividendos das empresas petrolíferas, os
caminhoneiros, e os usuários de transportes individuais à população mais
vulnerabilizada pelos últimos anos de crise econômica.
Saúde
O PLOA 2023 reserva R$
132 bilhões para a função saúde. Este valor significa uma perda de R$ 21
bilhões em relação à dotação orçamentária atual de 2022. Para além de um
desfinanciamento crônico, nos últimos anos, a saúde vem sofrendo com um mau
planejamento, o que prejudica a organização dos serviços do SUS e deixa os
recursos da saúde à mercê de acordos no Legislativo. Por exemplo, R$
10,4 bilhões estão reservados para emendas de relator, o que equivale a 8% do
orçamento do Ministério da Saúde, sem considerar os outros tipos de
emendas, como individuais e de bancada. Como já alertamos no Balanço do Orçamento Geral
de 2022, as emendas atendem mais a interesses políticos do que
às reais necessidades do SUS, além de não ter transparência
na sua alocação.
Educação
Com relação à educação, o ciclo
de desmonte do governo Bolsonaro continua, com queda nos recursos para
todos os níveis, em especial o ensino superior, de responsabilidade da União,
deixando as universidades na penúria.
O recurso para a subfunção Ensino Superior para
2023, que em governos anteriores já foi da ordem de R$ 40 bilhões, é de R$ 34,3
bilhões, o mesmo valor nominal de 2022. Se este orçamento fosse atualizado pela
inflação de junho de 2021 até junho de 2022 (índice de 11,89%), o recurso
deveria ser de R$ 38,8 bilhões, ou R$ 4,4 bilhões a mais do que foi proposto.
No entanto, com a mudança da regra de cálculo estabelecida na PEC dos
precatórios, o índice inflacionário ficou subestimado em 7,2%.
Para a educação básica, o único
aporte a mais foi a complementação do Fundeb, que é obrigatório por
lei. De acordo com o novo Fundeb, a complementação da União deverá
ir de 10% do valor do Fundo para 23% até 2026. Para 2023, terá de ser da ordem
de 19%, portanto, 4% a mais que em 2022. As demais ações, em geral, se
mantiveram ou caíram. E mesmo as que se mantiveram também estão em queda, se
considerarmos a inflação.
O Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), por exemplo, veio com
o mesmo recurso do ano anterior, de R$ 3,9 bilhões, não foi sequer considerada
a nova regra de cálculo da inflação do período, que ficaria em 7,2% e, neste
caso, o valor do PNAE teria de ser de R$ 4,2 bilhões.
Ainda sobre o PNAE,
mesmo que estejamos vivenciando uma situação de insegurança alimentar, com 33
milhões de pessoas passando fome, sabendo que a alimentação escolar para muitas
crianças e adolescentes é a única refeição do dia, não há aportes novos, ao
contrário, o governo federal vetou aumento previsto na Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO).
A ação para infraestrutura das
escolas segue em queda. E como já reforçamos em relatórios anteriores, é muito
preocupante, visto que a pandemia exigiu que as escolas fossem ampliadas, para
se ter menos estudantes por sala, que deveriam ser arejadas. No entanto, o
recurso foi de R$ 500 milhões em 2019, para a previsão de apenas R$ 3 milhões
em 2023, ou nada, frente ao enorme desafio de reestruturar escolas,
especialmente rurais e periféricas.
Com a falta de recursos federais
para infraestrutura, às escolas ficou a responsabilidade de se resolverem com
os recursos do Programa Dinheiro Direto nas Escolas, PDDE.
Porém, esses recursos também minguaram, em 2023 foram previstos no PLOA exatamente
o mesmo valor proposto em 2022, ou R$ 2 bilhões, sem considerar a inflação do
período.
A ação Bolsa Permanência,
que atende estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, indígenas,
quilombolas e estudantes do campo, também segue com poucos recursos e em queda.
Em 2022 foram previstos R$ 179,4 milhões e, para 2023, R$ 163,6. Além de não
considerarem a inflação, houve corte de recursos. Não basta criar políticas
para acesso, como as cotas, e não se ter políticas de permanência, aumentando a
evasão no ensino superior.
Direito à
cidade
As ações voltadas para políticas
públicas ligadas às cidades sofreram quedas bruscas. Praticamente não se tem
recursos para algumas ações importantes para a concretização do direito à
cidade- o que parece não preocupar o atual governo.
Destacaremos algumas ações que
compõem a Função
Urbanismo. A saber, apoio a transporte não motorizado, a planos
de mobilidade urbana, à urbanização de assentamentos precários e ao transporte
público coletivo urbano. Todas já contavam com baixo investimento, mas para
2023 o cenário é de total descaso. Vejamos a tabela 1.
Comparando apenas os anos de 2022
e 2023, percebemos que as quatro ações em destaque estão praticamente
inviabilizadas, pois os recursos são tão baixos, especialmente transporte não
motorizado e apoio a planos de mobilidade, que certamente não enfrentará os sérios
problemas de mobilidade urbana que temos.
Habitação
A tabela 2 traz
as ações da função Habitação, que são praticamente desconsideradas pelo
orçamento público com tão poucos recursos. É um escárnio o que vem acontecendo
com as políticas urbanas e com a habitação em particular. Especialmente as
ações para urbanização de assentamentos precários e habitação de interesse
social.
Meio ambiente
A previsão de recursos para o
meio ambiente em 2023 foi apresentada pelo governo (no PLOA 2023)
um dia antes do anúncio de novos recordes de queimadas na Amazônia.
Nenhum dos anúncios surpreende, infelizmente.
O descontrole das queimadas e do
desmatamento é expressão do desmonte da política de fiscalização ambiental do
atual governo, sendo o desmonte do orçamento uma peça importante, mas não
única.
A redução do orçamento para
o Meio
Ambiente expressa a absoluta falta de prioridade dada a
essa política. Se comparado ao PLOA 2022, o meio ambiente perde R$ 164 milhões
no PLOA 2023. No total estão previstos R$ 2,96 bilhões para todas as Unidades
Orçamentárias que compõem a pasta Meio Ambiente (MMA/Administração Direta, Ibama, ICMBio, Instituto Jardim Botânico, Fundo Nacional de Meio
Ambiente e Fundo Clima). É o pior orçamento em
dez anos.
Comparados os PLOAs 2022 e 2023, o
prejuízo é muito maior:
·
no Ibama foram retirados R$ 12 milhões da ação de “Prevenção e
Controle de Incêndios Florestais nas Áreas Federais Prioritárias”;
·
o Icmbio perde R$ 27 milhões, dos quais R$ 10 milhões foram
retirados da ação de “Fiscalização Ambiental e Prevenção e Combate a Incêndios
Florestais”.
O quadro é ainda mais grave
quando se olha o “sacrifício fiscal” atribuído ao meio ambiente. A reserva de
contingência prevista é de R$ 366 milhões, distribuídos entre Ibama, Fundo Nacional de Meio
Ambiente (FNMA) e Administração Direta.
Reserva de Contingência é a parcela do orçamento em cada órgão que não pode
ser gasta e que se destina ao cumprimento do Teto dos Gastos.
Essa Reserva tem
consumido silenciosamente o orçamento para o meio ambiente e para todas as
despesas discricionárias em todos os órgãos.
O mecanismo que passa muitas
vezes despercebido no debate público é responsável, por exemplo, pela morte
do Fundo
Nacional de Meio Ambiente (FNMA), que tem, hoje, quase
todo recurso destinado ao sacrifício fiscal, ao passo em que os problemas
associados à destruição ambiental só crescem no Brasil.
O FNMA tem
previsto no PLOA 2023 apenas R$ 36 milhões dos quais R$ 33
milhões, ou seja, 90% estão aprisionados na Reserva de Contingência.
Vale lembrar que esse Fundo foi
criado em 1989 com a missão de contribuir com o financiamento da implementação
da Política
Nacional do Meio Ambiente – PNMA (Lei
Nº 6.938/81). O FNMA é destinado para todos os biomas brasileiros e
para o fortalecimento da política ambiental de estados e municípios. A escala
nacional e flexibilidade para apoiar diferentes agendas o tornam potencialmente
relevante como instrumento de financiamento da Política Nacional de Meio
Ambiente.
Crianças e
adolescentes
Na rubrica orçamentária
intitulada Assistência à Criança e ao Adolescente (subfunção)
permaneceu apenas a ação 217M (Desenvolvimento Integral na Primeira Infância – Criança Feliz).
Apesar dos questionamentos que fazemos à forma de funcionamento do programa –
executado nos últimos anos pela área de assistência –, é o único com recursos
específicos para esse grupo. Apesar disso, o Projeto de Lei reduziu
em 50% a previsão de recursos para a ação, tanto em comparação com o PLOA 2022 quanto
com o autorizado para 2022.
Ainda na assistência, foram
previstos R$ 450 mil para o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, com
recursos do Fundo Nacional de Assistência Social. No entanto, se
avaliarmos a execução deste ano, de R$ 9 milhões autorizados, nenhum centavo
foi executado até o momento.
Para apoio e manutenção da
educação infantil, recursos para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE),
estão previstos míseros R$ 5 milhões, 96% a menos que o previsto e executado
até setembro de 2022. O menor aporte de recursos em mais de dez anos. Para o
sistema socioeducativo, há previsão de R$ 1,5 milhão, 25% a menos que o
previsto em 2022.
Para o Fundo Nacional da Criança
e do Adolescente (FNCA), foram previstos R$ 15,7
milhões, recursos que hoje são geridos pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos. Contudo, esse aporte não significa avanço, uma vez que
para 2022, dos R$ 10,4 milhões previstos, até agora, não houve nenhuma execução
orçamentária.
Vale destacar ainda o alerta de
que as peças orçamentárias não discriminam com maior detalhamento para que tipo
de gastos esses valores estão previstos. Estão dentro de uma ação mais ampla,
a 21AR – Promoção e Defesa de
Direitos para Todos.
Mulheres
No âmbito do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos nenhum recurso foi destinado à Ação 218B – Políticas de Igualdade e
Enfrentamento a Violência contra as Mulheres. Para a Casa da Mulher Brasileira (CMB),
estão previstos R$ 13 milhões (Ação 00SN). Isso significa que só
saberemos se algum recurso será alocado para o tema, além da CMB,
quando iniciar a gestão de 2023, pois é possível, por meio de Planos Orçamentários (instrumento
de gestão/classificação orçamentária não previsto na LOA),
alocar recursos em ações orçamentárias genéricas, como 21AR – Promoção e Defesa de
Direitos Humanos para todos (que tem previsão de R$ 37,9
milhões) e 21AS – Fortalecimento da Família (com
previsão de R$ 4,7 milhões).
Também não é possível identificar
os recursos que serão destinados ao Ligue 180, pois este deixou de ser uma ação
orçamentária, mesmo tendo, em 2022, os recursos alocados no Plano Orçamentário
da Ação 21AU – Operacionalização e Aperfeiçoamento do Sistema
Integrado Nacional de Direitos Humanos (com previsão de 33
milhões).
Igualdade
racial
Não foi alocado nenhum recurso
para promoção da igualdade racial, política pública de responsabilidade
do Ministério
da Mulher, Família e Direitos Humanos.
Quilombolas
Também não foi alocado nenhum
recurso para quilombolas no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos,
principal órgão responsável pelas políticas destinadas a este público. Contudo,
fora do Ministério, foi previsto o valor ínfimo de R$ 405 mil para a Ação 210Z – Reconhecimento e
Indenização de Territórios Quilombolas, a ser executado
pelo Incra.
Para a Ação
21C9 – Implantação, Ampliação ou Melhoria de Ações e
Serviços Sustentáveis de Saneamento Básico em Pequenas Comunidades Rurais (Localidades
de Pequeno Porte) foram previstos R$ 82,4 milhões, a serem executados
pela Funasa.
A Ação 2792 – Distribuição de Alimentos
a Grupos Populacionais Tradicionais e Específicos e a Famílias em Situação de
Insegurança Alimentar e Nutricional Temporária, com previsão de
R$ 18,3 milhões, também poderá contemplar quilombolas. Essa é a ação que
realiza a compra de cestas básicas para povos e comunidades tradicionais em
situação de insegurança alimentar.
Indígenas
No que tange às políticas
públicas voltadas para os povos originários, o PLOA 2023 aprofunda
a diretriz anti-indígena adotada ao longo da gestão Bolsonaro e analisada em
nosso dossiê “Fundação Anti-indígena: um retrato da Funai sob o Governo Bolsonaro”.
O orçamento proposto para 2023 é R$34 milhões mais baixo do que o proposto
no PLOA
2022.
Ainda que a queda possa ser
considerada pequena em relação ao ano em curso, é preciso levar em conta o
aprofundado estrangulamento orçamentário vivenciado pelo órgão, que impacta
tanto no quadro de funcionários como na própria efetivação das políticas sob
sua responsabilidade. Destaca-se que, como constatado no dossiê, em 2022 havia
mais cargos vagos do que ocupados na Funai e o PLOA 2023 não
indica qualquer melhora nesta situação. Ao contrário, se o PLOA 2022 previa
gastos de R$4120 milhões para custeio de pessoal e encargos sociais, o PLOA 2023 prevê
uma redução de R$16 milhões neste grupo de despesa, deixando ainda mais incerta
a capacidade executiva da autarquia.
No que se trata do programa
finalístico, ou seja, aqueles que chegam mais diretamente nas comunidades
indígenas, também há cortes. O PLOA 2023 prevê gastos de até
R$80,6 milhões para a execução do programa “Proteção e Promoção dos Direitos dos Povos
Indígenas”. No PLOA anterior, estavam
previstos gastos de até R$94,5 milhões, o que significa uma queda de 14% nos
valores propostos.
Chama especial atenção a queda de
R$7 milhões na ação destinada a regularizar, demarcar e fiscalizar as terras
indígenas, além de proteger povos indígenas isolados e de recente contato (ação orçamentária 20UF).
Este caso torna-se temerário não apenas pela violência e invasões crescentes às
TIs, estimuladas pela atual gestão e constatada em relatórios como o elaborado
pelo Conselho
Indigenista Missionário, mas também por conta da paralisia
adotada pelo órgão nos processos de demarcação de terras. Como apontamos
anteriormente, além de retroceder processos já avançados de regularização
de TIs,
ao longo da gestão atual do órgão, apenas Grupos Técnicos determinados
judicialmente foram instituídos, sendo esta a primeira etapa do processo
demarcatório. Assim, pode-se supor que o orçamento previsto para 2023 não dê
conta sequer de atender a atual diretriz do órgão, qual seja, prosseguir com as
demarcações apenas com determinação da justiça.
Assim, caso o PLOA 2023 seja
aprovada como está, a retomada da política indigenista enfrentará sérios
desafios, independentemente de quem seja o mandatário do país no próximo
período. A necessária reestruturação e redirecionamento do órgão esbarrará no
quadro de servidores desfalcado, sem plano de carreiras e proteção adequados
para executar sua missão, além de um orçamento exíguo e ainda mais apertado do
que o deste ano.
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