Prioridades sindicais para enfrentar a crise
sanitária e econômica
Por Clemente Ganz Lúcio
"Essas prioridades devem ser promovidas de forma a termos uma perspectiva capaz de colocar como desfio coletivo a formulação de um projeto nacional de desenvolvimento, as estratégias para sua implantação e as formas de pactuar essa construção", escreve Clemente Ganz Lúcio, Sociólogo, ex-diretor técnico do DIEESE, consultor sindical e assessor do Fórum das Centrais Sindicais.
Eis o artigo:
Todos queremos previsibilidade diante dessa gravíssima crise sanitária, econômica e social. Para ter uma prospecção positiva diante das enormes incertezas é necessário que no presente se tomem decisões corretas e iniciativa capazes de construir a perspectiva favorável desejada. Infelizmente o Brasil tem seguido os piores caminhos, em especial por parte do Governo Federal, ao não coordenar as ações entre os entes públicos, ao negar a ciência e as orientações das organizações da área da saúde para proteger a vida e evitar o estrangulamento do sistema de saúde, ao não planejar e articular o enfretamento dos graves reflexos econômicos e sociais da crise sanitária.
Os casos que se multiplicam só permitem
vislumbrar péssimas perspectivas. O caos em Manaus se alastra para a
região amazônica; a falta que faz um plano de preparação e aplicação das vacinas;
os péssimos exemplos e pronunciamentos do Presidente; o fim do auxílio
emergencial e o aumento da pobreza e da miséria; desemprego e
o fechamento de micro, pequenas, médias e grandes empresas; exemplos que se
multiplicam e que geram inseguranças, mais mortes, estresse do
sistema de saúde, queda da atividade econômica, entre inúmeras outras
perversas consequências.
Frente a este contexto de adversidades
que se agravam, as Centrais Sindicais definiram
cinco prioridades para a atuação imediata.
A primeira é
agir para que toda a população tenha, efetivamente, acesso à vacinação,
com prioridades declaradas e implantadas com eficácia, trabalho que deve ser
coordenado pelo SUS – Sistema Único de Saúde e
pelo PNI - Programa Nacional de Imunização. As
desigualdades econômicas e políticas já indicam, mais uma vez, o descalabro das
injustiças no acesso prioritário à vacinação, notícias que aparecem nos
primeiros dias de acesso extremamente restritivo às vacinas. Nesse sentido,
busca-se inclusive articulações nacionais ou internacionais, como a realizada
com a Federação dos Trabalhadores da China, para demandar
atenção daquele país ao fluxo de insumos para a produção da vacina
no Brasil, apesar da diplomacia destrutiva do Governo Federal.
A segunda prioridade é
manter o fluxo de acesso e de pagamento do Auxílio Emergencial de R$
600,00 a todos aqueles que estão sem trabalho e sem renda, medida que deve ser
estendida enquanto durar a pandemia. Nessa mesma prioridade se enquadra a proteção
dos empregos e salários dos trabalhadores que tiverem seus
contratos de trabalho suspensos ou redução da jornada de trabalho, pois muitas
empresas ainda estão e permanecerão com suas atividades duramente impactadas,
em espacial no setor de serviços.
A terceira prioridade é
a geração de empregos. Uma articulação ampla do Estado em
todos os níveis deve mobilizar iniciativas que vão desde a geração de milhões
de empregos de emergência, realizando obras públicas e de interesse local; a
retomada em todo om país de milhares de obras paradas; a recuperação de
estratégias de investimento em infraestrutura economia e social; a agilização
de concessões públicas, entre outras iniciativas estruturantes de uma saída
organizada dessa crise.
Para que essas medidas possam ser
implantadas será necessário rever as regras da Lei que coloca limites
inaceitáveis ao gasto público, ainda mais no contexto dessa crise. O equilíbrio
fiscal deve ser buscado em um ambiente de crescimento econômico,
com regras inteligentes que favoreçam o investimento, garantam a atuação
anticíclica do Estado e a proteção social.
A quarta prioridade é
a atuação junto às bases sindicais e na articulação institucional nacional e
internacional para favorecer a solidariedade interna e externa visando suprir
as demandas da área de saúde, prover proteção de alimentos e renda às pessoas,
em especial aos mais vulneráveis.
A quinta prioridade é proteger as
instituições e o Estado Democrático de Direito que
vêm continuadamente sendo atacados. Neste contexto, a valorização dos
sindicatos e da negociação coletiva fazem parte da musculatura institucional
que deve ser fortalecida e aprimorada para resistir aos ataques e,
principalmente, construir a superação dessa absurda situação em que o país está
colocado.
Essas prioridades devem ser promovidas de
forma a termos uma perspectiva capaz de colocar como desfio coletivo a
formulação de um projeto nacional de desenvolvimento, as
estratégias para sua implantação e as formas de pactuar essa construção.
Disponível em:
http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/606418-vacina-renda-e-emprego-prioridades-sindicais-para-enfrentar-a-crise-sanitaria-e-economica.
Acesso em 05/03/2021.
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