Maquiavel
viveu e escreveu “O Príncipe” no início do Século XVI durante o
Renascentismo, momento de retomada dos valores culturais, artísticos e
filosóficos greco-romanos, consistindo, porém, numa ruptura com a era medieval,
propondo novas formas de avaliação e análise políticas. Assim, embora escrito a
mais de 500 anos ainda contribui para a ciência política da atualidade no
tocante à conquista e manutenção do poder. Maquiavel é considerado o fundador
da política moderna.
Caracteriza-se
pelo rompimento da visão teológica da política (divindade do soberano) e pela
investigação histórica e dessa forma estabeleceu fundamentos para o estudo dos
atos políticos, a partir de lógica e ética próprias da política. Ao examinar a
história, embora em contextos diferentes, é conveniente ao governante conhecer
formas de governos passados para não incorrer nos mesmos erros ou repetir os
acertos diante de situações parecidas.
Sobre a
natureza humana, Maquiavel considera imprevisível, anárquica, embora
constantemente ajam de acordo com a sua natureza, o que pode torná-los
previsíveis. É com essa natureza que o governante terá que lidar, podendo
causar instabilidade na sociedade.
Ao
soberano/governante cabe agir conforme a conjuntura, sem levar em consideração
os preceitos morais, éticos e religiosos para a tomada das decisões. Ter sempre
em mente o dilema do leão e da raposa: a força para a conquista e a astúcia
para a manutenção do poder.
“Deve, portanto, o príncipe tomar cuidado para que de
sua boca não saiam palavras que não estejam perfeitamente coadunadas com as
cinco sobreditas qualidades e para parecer aos que veem e ouvem, de todo
misericordioso, sincero, de todo integro, humanitário, de todo religioso. Nada,
aliás, se faz mais indispensável do que passar a impressão de possuir esta
última qualidade”. (MAQUIAVEL, 1996, p. 105)
Conforme
exposto acima, o governante não precisa possuir as qualidades, precisa
aparentar tê-las. Maquiavel afirma que para conquistar e manter-se no poder, é
necessário ser amado e bem visto. Estabelece duas formas de organização do
estado, o principado – onde a sociedade se submete às decisões do príncipe e a
república onde a sociedade tem liberdade, as instituições são estáveis e
contemplam a dinâmica das relações sociais, tornando-se virtuosa.
Para
Maquiavel todo governante precisa ter virtú e fortuna para alcançar o poder e
permanecer nele. A virtú é o conjunto de características que o
governante deve ter para manter o poder e a fortuna é entendida como a natureza
do tempo (conjuntura), a conquista do poder. Assim, são critérios de avaliação
da boa ou má gestão. Um bom governante é aquele que utiliza a fortuna e virtù de
forma equilibrada, o agir virtuoso é agir como homem e como animal – força e
astúcia-, desenvolvendo pedagogicamente as virtudes do povo.
Há
algum tempo a sociedade brasileira criou uma visão bastante negativa sobre a
política e os políticos, em virtude de um processo histórico que propunha a
redemocratização como forma de atingir o desenvolvimento do país, e isso não
aconteceu, entretanto o país enfrenta um período tormentoso caracterizado pela corrupção
desenfreada.
O
sentimento que grande parte da população tem da política e dos políticos é que
a política se tornou um instrumento para enganar o povo para a obtenção de vantagens
e benefícios próprios, sobrepondo o interesse particular em detrimento do
público. A política atual se parece muito com o que Maquiavel escreveu, é só
consultar os resultados das eleições das três esferas públicas, a quantidade de
candidatos que conseguem se eleger e reeleger por se apresentarem como o ideal,
novo e incorruptível para governar, se intitulando defensores do povo, dos bons
costumes, da moral e da ética, e ao final se vê e se vota nas aparências e não
na realidade.
O cenário
político brasileiro, eticamente, se encontra num profundo estado de degradação e
o presidencialismo de coalização faz com que as barganhas entre o executivo e o
legislativo sejam escancaradas, e costumeiramente as benesses só atingem os seus
grupos de sustentação e não a população como um todo.
Comentários
Postar um comentário
Que bom que você comentou no artigo publicado, concordar ou discordar nos faz evoluir, assim é a democracia. Entretanto, lembre sempre de tratar a todas e todos com civilidade e educação. Só assim, você garante a publicação do que você pensa! Discuta sempre sobre as idéias, nunca transforme em pessoal as criticas ou elogios. Essas normas serão cumpridas pelo administrador do blogue. Axé!