Axé, Kolofé, Motumbá, Saravá todas e todos.
Antes de mais nada queria dizer que gostaria de ter essa conversa
pessoalmente, mas a pandemia da covid-19 e o isolamento social imposto aos
sexagenários, como é o meu caso, me impede de ir até você. Assim, escrevi esse
texto (é um textão, mas peço que você leia até o final) para tentar mostrar a
importância do momento que vivemos.
Não é
minha intenção convencer ou persuadir, quero simplesmente contar
o que penso, e se você concordar com essa reflexão, pedir a sua ajuda
para a construção de um novo futuro para a Umbanda, Candomblé e demais
religiões de Matriz Africana em nossa cidade.
Chegamos a mais uma eleição, dessa vez municipal, onde elegeremos
prefeitos e vereadores, e acredito que nunca foi tão importante colocar na
pauta política a defesa das populações tradicionais e das Religiões de Matriz Africana.
Instalou-se no pais um clima de extremismo religioso que vai muito além
da intolerância religiosa, são tentativas de extermínio das religiões de Matriz
Africana, de Indígenas e Ciganos que também viraram alvo de ataques constantes.
Embora tenhamos crescido ouvindo que política e religião não se discute,
parece que só nós seguimos essa orientação, pois as outras religiões não só
discutem, como elegem a cada ano mais e mais representantes e se fortalecem,
formando bancadas nas câmaras de vereadores, assembleias legislativas e
congresso nacional, que se ocupam em defender os interesses desses segmentos
religiosos.
Por certo, a política
não pode ser algo separado da nossa atuação no mundo, afinal ela tem impactos concretos em
temas muito importantes para o conjunto da população: educação, saúde,
geração de empregos, políticas para a população LGBTI+, combate ao racismo
institucional e pelo direito fundamental de professar a nossa fé sem
preconceito e discriminação, dentre outras.
Existem atualmente alguns parlamentares aliados que incluem em suas
propostas a defesa dos direitos dos fiéis da Umbanda e do Candomblé, no
entanto, essa representação é insuficiente, pois não é a sua prioridade.
Da mesma forma, existem vários(as) candidatos(as) que se reivindicam
defensores das religiões de Matriz Africana, o que é muito bom, mas, ainda não
consolidaram a necessária densidade eleitoral que possa efetivar a sua eleição,
se continuarem com esse interesse e participarem mais ativamente dos fóruns de
discussão, encaminhando as propostas aprovadas, no futuro, também serão elegíveis.
Entretanto, o lançamento de várias candidaturas pode dividir os nossos
votos e acabar por não eleger nenhum deles(as), portanto, entendo que precisamos
centrar todas as nossas forças naqueles(as) que efetivamente tenham viabilidade
eleitoral.
Assim, precisamos eleger candidatos que defendam a laicidade do Estado,
a nossa ancestralidade e combatam a intolerância religiosa, fazendo com que a
legislação existente seja respeitada e propondo políticas afirmativas para as
comunidades de terreiros.
Em Curitiba, assistimos no ano passado o aumento da gravidade de ataques
às comunidades de Matriz Africana, muitas vezes, mascarados por supostas
desavenças entre vizinhos, quando a real motivação, é a intolerância religiosa.
A rigor, o Povo do Axé sofre ataques o tempo todo, que tendem a piorar,
nesse momento de acirramento das posições, em que a democracia e a laicidade do
Estado estão ameaçadas.
Por isso precisamos ocupar o espaço de direito que já ocupamos de fato
na vida brasileira.
Portanto, precisamos vereadores que defendam essa população formada por
pessoas de diferentes raças, saberes, cores e interesses, mas que tem em comum
a mesma ancestralidade religiosa e cultural.
Assim, para as eleições municipais deste ano, defendo, indico e peço um voto
de confiança para o Candiero, nº 12.288, que a mais de 20 anos trabalha
em prol da preservação e da difusão do nosso saber ancestral, nos dando visibilidade
na sociedade curitibana.
Para aqueles que conhecem a minha militância política, pode parecer
estranho apoiar um candidato de outro partido, mas para mim, a gravidade da
situação requer uma atuação acima dos perfis ideológicos e/ou partidários.
Para concluir, tenho claro que o nosso projeto de representação política
não termina com a eleição do Candiero 12.288 Vereador em 2020. Ao contrário, se
inicia, e pavimentará o caminho para as eleições seguintes, quando teremos as
condições de formar bancadas de Deputados Federais no Congresso Nacional e Deputados
Estaduais nas Assembleias Legislativas, a partir dessas candidaturas que se
apresentam nesse pleito ou outras que surgirem.
A estratégia de intervenção política do Povo do Axé, tem que ser de
longo prazo, que culminará, quem sabe, um dia, com a eleição de um presidente
do nosso país “terrivelmente macumbeiro”!
Coloco-me desde já a sua disposição para qualquer esclarecimento ou
dúvida.
Paulo Tharcicio Motta Vieira, o Paulão, Capitão de Terreiro no Terreiro
de Umbanda Vovó Cambinda de Curitiba.
Axé!
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