O neoliberalismo se autoafirma como o sistema de modernização e progresso, porém a população trabalhadora continua vivendo na miséria. A rigor a meritocracia, sem as mínimas condições de competitividade - educação, saúde, salário digno e o respeito ao ser humano -, é uma deslavada mentira, que repetida à exaustão, acaba convencendo inclusive, todas e todos que são lesados nos seus direitos fundamentais. Propõe uma coisa e entrega outra, pois não traz o crescimento econômico consistente e não redistribui a riqueza gerada, que fica concentrada nas mãos de pouquíssimos, os detentores da enorme reserva de capital especulativo.
Assim como tudo o que é sólido desmancha no ar, o neoliberalismo e sua
falaciosa modernização devastam subjetividades e economias onde se instala.
Palco dos mais diversos experimentos fracassados, a América Latina sofre os
efeitos desse discurso que ao propagar a modernização, na verdade reforça sua
servidão em relação aos países centrais. Entretanto, 2020 é ano eleitoral, e
assim, temos nas mãos a possibilidade de eleger prefeitos e vereadores do campo
progressista, que possam auxiliar na formulação/implementação de leis que possam
estabelecer nas cidades do nosso país, um estado mais justo, inclusivo e igualitário.
Vamos ao texto!
O neoliberalismo não trouxe nenhuma modernização
Por Beatriz Contelli – Jornal A Verdade
Encabeçado pela retórica do Laissez-faire, o neoliberalismo
propaga uma suposta liberdade individual e econômica que aos olhos de muitos
entusiastas chega quase a ser perfeita. Aliada de políticas antipopulares, esta
doutrina dissemina uma modernização que além de excludente, agride diretamente
a ampliação da oferta de serviços públicos, a preservação dos povos
originários, a conquista de direitos trabalhistas, entre outros segmentos
essenciais da sociedade.
O neoliberalismo, ao imprimir uma marca não apenas na esfera econômica,
mas também na forma como se vê o público em relação ao privado, reconfigura uma
noção de que o primeiro é ineficiente e oferece serviços precários, enquanto o
segundo é sinônimo de eficiência e qualidade.
Os ataques sistemáticos à educação, do ensino básico ao ensino superior,
sob a escusa do desenvolvimento tecnológico e da necessidade de adaptação do
ensino às demandas do mercado, é uma ofensa à educação pública, gratuita e de
qualidade, direitos estes reservados pela Constituição Federal.
Em 2012 falava-se da aprovação da Lei de Cotas nas universidades. Em
2019 o assunto já era sobre um tal programa Future-se, que ao usar
terminologias como “inovação” e “incubadoras de startups”, escondia
seu real objetivo: ser o primeiro passo para a privatização das universidades e
contribuir para a mercantilização da educação.
Assim como o ensino, o transporte público está entre os segmentos mais
afetados pelas políticas de privatização. Diferente do que foi defendido por
muitos, o setor privado não garante mais conforto e eficiência aos passageiros
dos transportes coletivos. Com uma arquitetura que não comporta o número de
usuários – observado principalmente nos horários de pico – as estações do Metrô
decorrentes das parcerias público-privada (PPP) não só tiveram suas obras
atrasadas, como exigiram gastos públicos exorbitantes, favorecendo a degradação
de estações que não fazem parte das PPP.
Caminhando ao lado da educação e dos transportes, as questões ambientais
tiveram seus problemas aprofundados e suas soluções ignoradas pelo
neoliberalismo. Poluição acentuada, extração elevada de recursos naturais,
desmatamento crescente e até mesmo extermínio de povos nativos e negação de
direitos básicos como acesso à água potável, se mostram interessantes para a
doutrina neoliberal que aprofunda a problemática ambiental e social.
Com a privatização da água vem junto o aumento de preço, o que impede o
acesso da população mais pobre. Com o aumento da desigualdade social, quem tem
dinheiro compra água potável, quem não tem se contenta com água contaminada. E
não para por aí: a privatização da água resulta em consequências para o meio
ambiente. Característica de países subservientes, a redução de leis ambientais
torna a privatização ainda mais atrativa aos olhos dos investimentos
estrangeiros.
O sucateamento das regulações ambientais tem efeitos perversos. Ela
provoca um aumento contínuo de garimpeiros, madeireiros e conglomerados estrangeiros
ilegais, que envenenam solos e rios, e traz consigo o genocídio de tribos como
os yanomamis, os kanamaris e os guaranis,
tratados com descaso por autoridades federais.
No campo do trabalho não seria diferente. Dotado de uma busca brutal por
produtividade, o neoliberalismo destrói a força humana que trabalha ao difundir
a desregulamentação, a flexibilização e a terceirização. A nova dinâmica do
desenvolvimento do capitalismo cria uma condição de insegurança e um modo de
vida e de trabalho precários, produzindo o incremento da informalidade
associada à perda de identidade individual e coletiva.
Sustentado pela fábula do empreendedorismo, é conveniente ao
neoliberalismo que o trabalhador tenha a ilusão de não estar sendo explorado e
carregue em si a promessa de uma suposta autonomia e independência. Sob o signo
da flexibilidade, os trabalhadores estão cada vez mais subordinados ao capital,
o vínculo empregatício e a proteção social desaparecem e mascara-se a
exploração da mais-valia.
Assim como tudo o que é sólido desmancha no ar, o neoliberalismo e sua
falaciosa modernização devastam subjetividades e economias por onde passam.
Palco de experimentos fracassados, a América Latina sofre os efeitos desse
discurso que ao propagar a modernização, na verdade reforça sua servidão em
relação aos países centrais.
O desmonte dos serviços públicos, a degradação do meio ambiente, a
precarização do trabalho, o aumento da concentração de renda, a hegemonização
dos monopólios, a disseminação de preconceitos e violências, o desprezo pelas
políticas sociais, fazem parte da lógica da austeridade fiscal, característica
da agenda neoliberal, que valorizam a desigualdade em detrimento da igualdade.
Aproveitador de cenários instáveis, o neoliberalismo perpetua a herança
colonial dos países subdesenvolvidos e torna os interesses do capital como
essencial para o seu desenvolvimento e efetivação. O neoliberalismo é perverso,
é genocida, é agressivo, é totalitário, é produto de governos e empresas que
concentram privilégios, excluem a voz das maiorias nas decisões e colocam o
Estado cada vez mais a serviço de objetivos elitistas, que deliciam-se com uma
bonança sem precedentes enquanto os povos das nações mais atrasadas do mundo
são arrasados por pobreza e opressão absolutas.
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