Aprende-se na escola
que o Brasil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral em 22 de abril de 1500,
com o atracamento das naus portuguesas na Baía Cabrália em Porto Seguro.
A ocupação inicial do
Brasil foi feita a partir da necessidade da expansão comercial portuguesa. Isso
ocorreu basicamente com o extrativismo dos recursos naturais abundantes,
inicialmente o “pau brasil” cujas características despertavam o interesse da
metrópole para o tingimento de tecidos, e influencia até hoje a formação
social, política e econômica do nosso país.
Aos poucos o Brasil
mestiço se constituiu, com os portugueses colonizadores, os
indígenas que já o habitavam e pelos negros africanos trazidos
escravizados; assim, o povo brasileiro é resultado desta mestiçagem.
Porém, o que efetivamente vai
influenciar o desenvolvimento do Brasil como país, é o “sentido da colonização
portuguesa”, o contexto da época e os seus desdobramentos cujos efeitos
permanecem até hoje.
Para esse entendimento é de fundamental
importância, aprender o que Caio Prado Júnior chamou de “o sentido
da colonização”, capítulo de abertura da sua obra Formação do Brasil
Contemporâneo, publicada originalmente em 1942.
Dessa forma, para buscar a compreensão
do processo de colonização do país é necessário entender a história como parte
de um processo maior. Conforme escreve o autor, a ocupação do Brasil é um
episódio da expansão marítima portuguesa, sob a ótica mercantilista, buscando a
ampliação do comércio de especiarias, dominado pelos árabes.
Grosso modo, visava a formação de um
entreposto comercial, diferente do que ocorreu nas chamadas “colônias de
povoamento” implementadas pelos espanhóis na sua parte da América. O reino de
Portugal não tinha intenção de constituir uma nova sociedade no território
brasileiro, buscava uma alternativa para as suas atividades mercantis.
Caio Prado Jr., afirma que todo o povo
tem na sua evolução um certo sentido, seguindo uma linha mestra e ininterrupta
de acontecimentos, dirigida por determinada orientação. Para ele, no caso brasileiro,
(...) “precisamos reconstituir o conjunto da nossa formação, colocando-a no
amplo quadro, com seus antecedentes, desses três séculos de atividade
colonizadora que caracterizam a história dos países europeus a partir do século
XV; atividade que integrou um novo continente na sua órbita, paralelamente,
aliás, ao que se realizava, embora em outros moldes diversos, em outros
continentes: a África e a Ásia.” (PRADO, p. 20, 1981).
Esgotados os recursos naturais, os
portugueses estruturaram a base da economia da colônia para a produção voltada
ao mercado externo, meramente, um empreendimento mercantil.
Para isso, utilizaram-se largamente da
mão de obra escrava, haja vista que o rentável tráfico negreiro já era
praticado por Portugal, e, por certo essa opção pelo escravismo deixou
profundas marcas na estruturação na sociedade brasileira.
Assim, estabelecem (...) “grandes
unidade produtoras agrícolas, fazendas, engenhos, plantações (as plantations
das colônias inglesas)”, latifúndios caracterizados pela monocultura, visando o
comércio com a metrópole portuguesa.
Chegando a 2020, 520 anos após esse
início, vemos a manutenção da mesma estrutura agrária do Brasil colonial, de
enormes propriedades agrícolas, ocupadas por monoculturas, que visam a exportação.
Assim, explicita-se “sentido da colonização” do país e a manutenção dos
elementos fundantes, econômicos e sociais da formação e do desenvolvimento
histórico do nosso país.
A Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a atual safra de grãos (2019/2020)
deverá chegar a 251,9 milhões de toneladas, sendo que a soja tem a produção
estimada em 124,2 milhões de toneladas e o milho de 100 milhões de
toneladas. Isso dá quase 50% da nossa produção agrícola concentrada em apenas 2
produtos.
Da soja exportou-se em 2019, 83,6
milhões de toneladas em grãos e 16,9 milhões em farelo ou 100,5 milhões,
mantido o mesmo nível serão perto de 81% da produção.
Já com relação ao milho, foram
exportados em 2019 44,9 milhões de toneladas, que representaria em torno de 45
% da produção brasileira.
É bom que se diga que devemos comemorar
esses números, porque o agronegócio brasileiro é o responsável pelo superávit
anual da balança de pagamentos.
Entretanto, ao concluir que a economia
brasileira segue estruturada com as mesmas características e objetivos desde o
descobrimento, também se aponta para a necessidade de um novo marco
desenvolvimentista, que prepare o Brasil do futuro, baseado na pesquisa e na
exploração sustentável da fauna, da flora e dos recursos minerais, todos com
tanta e tamanha diversidade em nosso país.
Bibliografia
PRADO. Caio Junior. Formação do Brasil
Contemporâneo: Colônia. 17ª. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981.
COMPANHIA NACIONAL DE
ABASTECIMENTO (CONAB). Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/agricultura-e-pecuaria/2020/03/safra-de-graos-2019-2020-deve-alcancar-recorde-de-251-9-milhoes-de-toneladas.
Acesso em 22-04-2020.
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