Pular para o conteúdo principal

22 de abril de 2020, 520º ano da ocupação do Brasil



Aprende-se na escola que o Brasil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral em 22 de abril de 1500, com o atracamento das naus portuguesas na Baía Cabrália em Porto Seguro.

A ocupação inicial do Brasil foi feita a partir da necessidade da expansão comercial portuguesa. Isso ocorreu basicamente com o extrativismo dos recursos naturais abundantes, inicialmente o “pau brasil” cujas características despertavam o interesse da metrópole para o tingimento de tecidos, e influencia até hoje a formação social, política e econômica do nosso país.

Aos poucos o Brasil mestiço se constituiu, com os portugueses colonizadores, os indígenas que já o habitavam  e pelos negros africanos trazidos escravizados; assim, o povo brasileiro é resultado desta mestiçagem.

Porém, o que efetivamente vai influenciar o desenvolvimento do Brasil como país, é o “sentido da colonização portuguesa”, o contexto da época e os seus desdobramentos cujos efeitos permanecem até hoje.

Para esse entendimento é de fundamental importância, aprender o que Caio Prado Júnior  chamou de “o sentido da colonização”, capítulo de abertura da sua obra Formação do Brasil Contemporâneo, publicada originalmente em 1942.

Dessa forma, para buscar a compreensão do processo de colonização do país é necessário entender a história como parte de um processo maior. Conforme escreve o autor, a ocupação do Brasil é um episódio da expansão marítima portuguesa, sob a ótica mercantilista, buscando a ampliação do comércio de especiarias, dominado pelos árabes.

Grosso modo, visava a formação de um entreposto comercial, diferente do que ocorreu nas chamadas “colônias de povoamento” implementadas pelos espanhóis na sua parte da América. O reino de Portugal não tinha intenção de constituir uma nova sociedade no território brasileiro, buscava uma alternativa para as suas atividades mercantis.

Caio Prado Jr., afirma que todo o povo tem na sua evolução um certo sentido, seguindo uma linha mestra e ininterrupta de acontecimentos, dirigida por determinada orientação. Para ele, no caso brasileiro, (...) “precisamos reconstituir o conjunto da nossa formação, colocando-a no amplo quadro, com seus antecedentes, desses três séculos de atividade colonizadora que caracterizam a história dos países europeus a partir do século XV; atividade que integrou um novo continente na sua órbita, paralelamente, aliás, ao que se realizava, embora em outros moldes diversos, em outros continentes: a África e a Ásia.” (PRADO, p. 20, 1981).

Esgotados os recursos naturais, os portugueses estruturaram a base da economia da colônia para a produção voltada ao mercado externo, meramente, um empreendimento mercantil.

Para isso, utilizaram-se largamente da mão de obra escrava, haja vista que o rentável tráfico negreiro já era praticado por Portugal, e, por certo essa opção pelo escravismo deixou profundas marcas na estruturação na sociedade brasileira.

Assim, estabelecem (...) “grandes unidade produtoras agrícolas, fazendas, engenhos, plantações (as plantations das colônias inglesas)”, latifúndios caracterizados pela monocultura, visando o comércio com a metrópole portuguesa.

Chegando a 2020, 520 anos após esse início, vemos a manutenção da mesma estrutura agrária do Brasil colonial, de enormes propriedades agrícolas, ocupadas por monoculturas, que visam a exportação. Assim, explicita-se “sentido da colonização” do país e a manutenção dos elementos fundantes, econômicos e sociais da formação e do desenvolvimento histórico do nosso país.

Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a atual safra de grãos (2019/2020) deverá chegar a 251,9 milhões de toneladas, sendo que a soja tem a produção estimada em 124,2 milhões de toneladas e o milho de 100 milhões de toneladas. Isso dá quase 50% da nossa produção agrícola concentrada em apenas 2 produtos.

Da soja exportou-se em 2019, 83,6 milhões de toneladas em grãos e 16,9 milhões em farelo ou 100,5 milhões, mantido o mesmo nível serão perto de 81% da produção.

Já com relação ao milho, foram exportados em 2019 44,9 milhões de toneladas, que representaria em torno de 45 % da produção brasileira.

É bom que se diga que devemos comemorar esses números, porque o agronegócio brasileiro é o responsável pelo superávit anual da balança de pagamentos.

Entretanto, ao concluir que a economia brasileira segue estruturada com as mesmas características e objetivos desde o descobrimento, também se aponta para a necessidade de um novo marco desenvolvimentista, que prepare o Brasil do futuro, baseado na pesquisa e na exploração sustentável da fauna, da flora e dos recursos minerais, todos com tanta e tamanha diversidade em nosso país.

Bibliografia

PRADO. Caio Junior. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. 17ª. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981.

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/agricultura-e-pecuaria/2020/03/safra-de-graos-2019-2020-deve-alcancar-recorde-de-251-9-milhoes-de-toneladas. Acesso em 22-04-2020.

 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ogum, Orixá regente de 2019.

Quando chega o final do ano, por curiosidade ou qualquer outro motivo buscamos saber qual o Orixá será regente no ano novo que se avizinha. Assim, Pais e Mães de santo, Ialorixás e Babalorixás e astrólogos consultam os seus oráculos e a partir de adivinhações definem ao seu modo o Orixá regente. Via de regra todos os Orixás - assim entendidas as manifestações divinas na natureza planetária vão influenciar o nosso ano -, embora, o que é determinante na nossa “sorte” no ano novo são; as nossas escolhas através do livre-arbítrio, o destino cármico e principalmente o nosso merecimento evolutivo. Dessa forma, a rigor, quem vai determinar se o ano que se inicia será bom ou ruim, seremos nós mesmos! De certo é que a cada novo ciclo, a cada início de ano, nós, seguidores das religiões de matrizes africanas ou não, temos uma grande curiosidade em saber qual o Orixá que regerá os próximos 365 dias. Mias um ano de busca da evolução espiritual, material e mental que nos trouxe a essa ...

Jesus e Oxalá: entenda as semelhanças e diferenças

A Umbanda é uma religião de Matriz Africana, afinal é da África que vem os sagrados Orixás. De lá também vieram, para serem escravizados em nosso país, e aqui desencarnaram, as Pretas e Pretos-Velhos, pilares da religião. Entretanto, é também cristã, para confirmar essa afirmativa, nos valemos das palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas ao anunciar a Umbanda: Todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com os espíritos que souberem mais, além de podermos ensinar aos que souberem menos. Não viraremos as costas a nenhum nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai. O verdadeiro Umbandista vive para a Umbanda, e não da Umbanda. Vim para criar uma nova religião, fundamentada no Evangelho de Jesus, e que terá Cristo como seu maior mentor. Caboclo das Sete Encruzilhadas, 16/11/1908. Por David Veronezi Disponível em https://umbandaeucurto.com/jesus-e-oxala Acesso em 25/12/2020. Jesus e Oxalá, afinal, são o não ‘a mesma coisa’? Qual é a relação entre eles? O Cab...

Jesus, o filho do carpinteiro

Por José Levino Disponível em: https://averdade.org.br/2020/12/jesus-de-nazare-o-filho-do-carpinteiro/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+averdadepravda+%28Jornal+A+Verdade%29 Acesso em 25/12/2020. “Os cristãos, temos que lutar contra a economia da exclusão e da iniquidade e o mal cristalizado em estruturas injustas” (Papa Francisco) Jesus de Nazaré, o Cristo, é reivindicado pelos pobres, explorados e também pelos exploradores. Falam em seu nome os que defendem que Deus é Amor e os que proclamam que Deus é vingador, e em seu nome bombardeiam países dominados (George Bush) ou oram fazendo o sinal de tiro com os dedos à Bolsonaro. Afinal, Jesus era assim mesmo, abrangente e contraditório, ou há setores usando seu nome em vão, falseando a doutrina e o exemplo do jovem nazareno que desafiou os poderosos do seu tempo? Apesar das limitações dos quatro evangelhos canônicos da Bíblia, aqueles selecionados pela Igreja no século IV d.C., depois de ser c...