Dados do ano de 2010, coletados no
relatório “Conflitos no Campo”, divulgados pela Comissão Pastoral da Terra
(CPT), mostram que aconteceram 1.184 conflitos no campo, sendo que desses 34
resultaram em assassinato de lideranças. A maioria deles (30) aconteceu
na região Norte do País. O Pará lidera o ranking de ocorrências, no Estado
morreram 18 lideranças do campo.
“O
que é triste constatar é que nove dos 18 assassinatos no Pará envolveram
trabalhadores contra trabalhadores, casos da Fazenda Vale do Rio Cristalino e
do Assentamento Rio Cururuí. Uma violência que esconde os reais
responsáveis pela tragédia.
Desavenças entre trabalhadores são
geradas pelos interesses do capital, sobretudo das madeireiras.”, diz o
relatório.
Também foram registrados conflitos na
região de Anapu (PA). De um lado, os assentados do PDS Esperança, criado
por Irmã Dorothy, que bloquearam estradas para evitar a saída de madeira
extraída ilegalmente da área.
Do outro, o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais que defende a extração da madeira. Mas, por trás
destes estava o interesse das madeireiras.
A Coordenação Nacional da CPT emitiu
nota sobre este conflito em que afirma “Os interesses econômicos, com seu olhar
focado exclusivamente no lucro, recusa-se a ver outras dimensões e valores da
natureza e utiliza diversos estratagemas para minar a resistência popular,
inclusive jogando trabalhadores contra trabalhadores.”. Na opinião dos
responsáveis pelo relatório esta é a lógica que sustenta os conflitos nas áreas
da Fazenda Vale do Rio Cristalino e do Assentamento Rio Cururuí.
NOTA DE MORTE ANUNCIADA
A história se repete!
Novamente, choramos e revoltamo-nos:
Direitos Humanos e Justiça são para quem neste país?
Hoje, 24 de maio de 2011, foram
assassinados nossos companheiros, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do
Espírito Santo da Silva, assentados no Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira,
em Nova Ipixuna – PA. Os dois foram emboscados no meio da estrada por
pistoleiros, executados com tiros na cabeça, tendo Zé Claúdio a orelha decepada
e levada pelos seus assassinos provavelmente como prova do “serviço realizado”.
Camponeses e líderes dos
assentados do Projeto Agroextratista, Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo
(estudante do Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA), foram o
exemplo daquilo que defendiam como projeto coletivo de vida digna e integrada à
biodiversidade presente na floresta. Integrantes do Conselho Nacional das
Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, os dois viviam e
produziam de forma sustentável no lote de aproximadamente 20 hectares, onde 80%
era de floresta preservada. Com a floresta se relacionavam e sobreviviam do
extrativismo de óleos, castanhas e frutos de plantas nativas, como cupuaçu e
açaí. No projeto de assentamento vive aproximadamente 500 famílias.
A denúncia das ameaças de
morte de que eram alvo há anos alcançaram o Estado Brasileiro e a sociedade
internacional. Elas apontavam seus algozes: madeireiros e carvoeiros,
predadores da natureza na Amazônia. Nem por isso, houve proteção de suas vidas
e da floresta, razão das lutas de José Cláudio e Maria contra a ação criminosa
de exploradores capitalistas na reserva agroextrativista.
Tamanha nossa tristeza!
Desmedida nossa revolta! A história se repete! Novamente camponeses que
defendem a vida e a construção de uma sociedade mais humana e digna são
assassinados covardemente a mando daqueles a quem só importa o lucro: MADEIREIROS e FAZENDEIROS QUE DEVASTAM A AMAZÔNIA.
ATÉ QUANDO?
Não bastasse a ameaça ser
um martírio a torturar aos poucos mentes e corações revolucionários, ainda
temos de presenciar sua concretude brutal?
Não bastasse tanto sangue escorrendo pelas mãos de todos que não
se incomodam com a situação que vivemos, ainda precisamos ouvir as autoridades
tratando como se o aqui fosse distante?
Não bastasse que nossos homens e mulheres de fibra fossem vistos
com restrição, ainda continuaremos abrindo nossas portas para que os corruptos
sejam nossos lideres?
Não bastasse tanta dificuldade de fazer acontecer outro projeto de
sociedade, ainda assim temos que conviver com a desconfiança de que ele não
existe?
Não bastasse que a natureza fosse transformada em recurso, a vida
tinha também que ser reduzida a um valor tão ínfimo?
Não bastasse a morte orbitar nosso cotidiano como uma banalidade,
ainda temos que conviver com a barbárie?
Mediante a recorrente
impunidade nos casos de assassinatos das lideranças camponesas e a não
investigação e punição dos crimes praticados pelos grupos econômicos que
devastam a Amazônia, RESPONSABILIZAMOS O ESTADO BRASILEIRO –
Presidência da República, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente, Polícia Federal, Ministério Público Federal – E COBRAMOS
JUSTIÇA!
ESTAMOS EM VÍGILIA!!!
“Aos nossos mortos nenhum
minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.”
Marabá-PA, 24 de Maio de 2011.
Assinam:
Universidade Federal do Pará/
Coordenação do Campus de Marabá; Curso de Pedagogia do Campo
UFPA/FETAGRI/PRONERA; Curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo;
Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra – MST/ Pará;
Federação dos Trabalhadores e
Trabalhadoras na Agricultura – FETAGRI/Sudeste do Pará;
Federação dos Trabalhadores e
Trabalhadoras da Agricultura Familiar – FETRAF/ Pará;
Movimento dos Atingidos por
Barragens – MAB;
Comissão Pastoral da Terra –
CPT Marabá;
Via Campesina – Pará;
Fórum Regional de Educação do
Campo do Sul e Sudeste do Pará.
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